Meta fiscal em xeque

Em defesa do governo, embora ciente do que se passa, Fernando Haddad minimiza as novas diretrizes

Por: ATribuna.com.br  -  18/04/24  -  06:21
  Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Na busca permanente pela redução da taxa de juros, pauta considerada prioritária para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no que se refere ao crescimento da economia e à geração de empregos, Fernando Haddad, ministro da Fazenda, voltou a defender mais cortes no Brasil. De acordo com ele, “estamos com a taxa ainda muito aberta em relação ao resto do mundo. Temos espaço de política monetária. Começamos a cortar muito recentemente”, avaliou. Contudo, a revisão da meta fiscal em nada contribui para o cenário desejado.


Ao mudar previsões estabelecidas anteriormente, a Fazenda empurra para a frente um ajuste mais do que necessário. O alvo de 2025 foi reduzido de um superávit de 0,5% do PIB para zero. Para este ano, foi mantida a meta de zero. Já a de 2026 caiu de 1% para 0,25%. Dessa forma, a impressão é que a melhora das contas públicas pode ficar para depois.


Um governo com resultados fiscais piores acaba se endividando mais, o que provoca o pagamento maior de juros e prejudica o ambiente de negócios, criando obstáculos para investimentos. O pior, contudo, não está aí. Em um ambiente sensível e suscetível a influências externas como o da economia, trata-se de um péssimo sinal revisar metas fiscais pouco tempo depois de tê-las estabelecido – em agosto de 2023. Se já entendeu ser preciso mexer no que estava definido agora, o que impede a avaliação de que em breve uma nova revisão seja colocada em prática?


Em um cenário de incertezas, o mercado busca segurança. Diante do que se configura, a tendência é dólar e juros subirem a médio e longo prazo. Seja por contingências do próprio governo, seja para atender demandas do Congresso, que não aprova nada sem ver seus apelos atendidos, o fato é a que equipe econômica alterou seus planos e não cumpriu o prometido.


Em defesa do governo, embora ciente do que se passa, Fernando Haddad minimiza as novas diretrizes. Para ele, o ajuste da meta não tira o trem do trilho e a trajetória se mantém em linha com o que se espera no médio prazo de estabilidade da dívida. Quanto aos efeitos da mudança da meta no mercado, com o dólar se valorizando em relação ao real, ele atribuiu a culpa às más notícias no exterior, com a escalada dos conflitos no Oriente Médio.


Se o que acontece no exterior serve de parâmetro, as notícias não são boas para quem espera pela redução de juros. O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, afirmou que os dados recentes de inflação nos Estados Unidos indicam que vai demorar mais tempo do que o imaginado até que a autoridade monetária tenha a confiança necessária para cortar juros. Powell ressaltou o arrefecimento dos preços no segundo semestre de 2023, mas admitiu que os números do começo do ano apontaram uma falta de mais progressos no objetivo de retornar a inflação à meta de 2%.


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