A intolerância crescente no Brasil ganha contornos ainda mais preocupantes quando ideologias como o neonazismo registram expansão no número de adeptos e simpatizantes. Segundo pesquisa realizada pela antropóloga Adriana Dias, células de grupos neonazistas cresceram 270,6% no Brasil entre janeiro de 2019 e maio de 2021, se espalhando por todas as regiões do País, ainda que de maneira silenciosa.
O fenômeno, conforme observação dos especialistas, teria sido alavancado pela disseminação dos discursos de ódio e de narrativas extremistas com participação decisiva das redes sociais, algumas delas incapazes de coibir com o rigor necessário práticas reconhecidamente reprováveis.
De acordo com o levantamento, no início de 2022 existiam mais de 530 núcleos extremistas no País. Aqueles que participam desses grupos compartilham o ódio contra feministas, judeus, negros e população LGBTQIA+, sem falar na crença de que o homem branco é superior ao restante da população e, na base da força, deve impor sua vontade e sua visão de mundo.
Diante de problema tão sério, o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) apresentou à Organização das Nações Unidas (ONU) manifestação a respeito do tema. O documento aponta que, de janeiro de 2019 a novembro de 2020, foram abertos 159 inquéritos pela Polícia Federal contra apologistas do nazismo. Para se ter ideia da gravidade, o número, referente a um período inferior a dois anos, supera o total de 143 investigações abertas ao longo de 15 anos, entre 2003 e 2018.
O documento do CNDH destaca ainda que, no ano de 2021, foram recebidas e processadas 14.476 denúncias anônimas pela Central Nacional de Crimes Cibernéticos, canal mantido pela organização não governamental SaferNet com o apoio do Ministério Público Federal (MPF).
Também há menção ao levantamento do Observatório Judaico sobre eventos antissemitas e correlatos ocorridos no país entre os anos de 2019 e 2022.
Além dos dados, foram citados casos concretos nos quais as diligências policiais terminaram com a apreensão de artefatos ligados ao nazismo, como fardas, armas e bandeiras, além de artigos e peças decorativas com imagens e símbolos.
O CNDH também chama atenção para o crescimento dos ataques em escolas, lembrando que em diferentes ocorrências o agressor fazia uso de simbologia neonazista aparente ou escondida em cadernos ou livros, por exemplo.
Em tempos nos quais o conhecimento está amplamente disseminado pela internet, com o passado contado em detalhes para quem quiser ver, a qualquer hora, é surpreendente que alguém ainda se sinta seduzido por valores discriminatórios e intolerantes. É por isso que a educação, dentro e fora da sala de aula, será sempre a melhor ferramenta contra a ignorância.