Falhas de gestão na Saúde

Em sua defesa, a gestão de Nísia Trindade sustenta que a epidemia tem ligação com aspectos ambientais

Por: ATribuna.com.br  -  19/04/24  -  06:24
  Foto: antonio Cruz/Agência Brasil

Primeira mulher a chefiar o Ministério da Saúde, Nísia Trindade tem um currículo de respeito. Foi presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e possui larga trajetória acadêmica, digna de prêmios e títulos. Além disso, conta com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que resiste a pressões políticas do presidencialismo de coalizão para mantê-la no cargo. Contudo, depois de fiascos recentes na pasta nos últimos anos, ficou claro que não basta ter alguém preparado no comando. É preciso capacidade de gestão.


Em meio a uma epidemia sem precedentes de dengue, com mais de 3,3 milhões de casos e 1.457 mortes registradas neste ano, o Governo Federal é alvo de críticas por ter demorado a agir e não ter implementado medidas mais efetivas ainda no ano passado, quando autoridades sanitárias como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a própria Fiocruz, ironicamente, já sinalizavam a possibilidade de um surto se tornar realidade.


Em sua defesa, a gestão de Nísia Trindade sustenta que a epidemia de dengue tem ligação com aspectos ambientais, como ondas de calor, chuvas e El Niño, e a fatores como a circulação simultânea de vários sorotipos do vírus transmissor. De fato, especialistas reconhecem que tudo isso atrapalhou o trabalho das autoridades. Entretanto, equívocos no enfrentamento da doença também foram determinantes para o resultado desfavorável.


O mais visível deles, talvez, seja a redução dos gastos em campanhas de comunicação contra a dengue. Segundo levantamento, o ministério reduziu em 58,5% o valor para campanhas de prevenção e conscientização sobre a dengue no ano passado. Para efeito de comparação, em 2023 o Ministério da Saúde gastou R$ 13,1 milhões com campanhas de combate a dengue e outras arboviroses.


Em 2022, último ano da gestão Bolsonaro, os mesmos gastos somaram R$ 31,6 milhões, já em valores corrigidos pelo IPCA, índice oficial de inflação. Tudo isso resultou em uma menor mobilização contra a doença antes do verão, ensejando a proliferação do mosquito transmissor Aedes aegypti e, consequentemente, o aumento do número de registros da doença.


Outras ocorrências podem ser apontadas como razão para o cenário, como a queda no ritmo de contratação de agentes de endemias, categoria responsável por ações de controle do mosquito. Ao longo de 2022, o número de agentes cresceu em 4.313. Mas, em todo o ano de 2023, o saldo foi de apenas 822 agentes a mais. Os profissionais são contratados pelos municípios, que recebem recursos do Ministério da Saúde para bancar salários.


A resistência em declarar emergência sanitária, o que poderia resultar em uma mensagem mais clara sobre a gravidade do problema, é outro ponto questionável. Este por sinal, traz contornos políticos, em razão de um aparente mea culpa. Ainda que fosse, deveria ter sido colocado em prática.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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