Energia para a indústria

Brasil pode reduzir dependência do gás natural, ao replanejar a forma como usa o que se produz nos poços de pré-sal

Por: ATribuna.com.br  -  08/05/23  -  06:26
  Foto: Reprodução/Ciesp

Tema que vem ganhando espaço na mídia por representar fonte renovável de energia e alternativa mais sustentável em um mundo cada vez mais exigente por sustentabilidade, o gás natural volta a ser pauta do Governo Federal, mas por iniciativa do setor industrial. Na semana passada, o Ministério de Minas e Energia lançou o programa Gás Para Empregar, focado predominantemente na indústria química e de fertilizantes, e que pode atrair investimentos de até R$ 94,6 bilhões até 2032, segundo projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).


A expectativa do governo é que os valores possam ser empregados principalmente em unidades de fertilizantes nitrogenados e outros químicos (R$ 39,3 bilhões), gasodutos de transporte de gás natural (R$ 25 bilhões), unidades de processamento (R$ 15,4 bilhões) e em rotas de escoamento offshore (R$ 14,9 bilhões).


A demanda por gás natural vem crescendo, especialmente na indústria química e de fertilizantes, por representar não apenas a fonte primária de energia, mas porque também é matéria-prima na produção de itens importantes desse setor, como metanol, amônia e ureia. O setor químico brasileiro é o sexto maior do mundo, mas acredita-se que, com incentivos como maior oferta de gás natural a preços competitivos, possa-se chegar à quarta colocação. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), há ociosidade expressiva no setor (35%), fruto do desestímulo dos últimos anos. Em julho de 2022, o governo suspendeu os benefícios que há dez anos vigoraram no Regime Especial da Indústria Química (Reiq), que previa redução de impostos para fazer frente à competitividade dos produtos importados.


Para a entidade, que reúne as principais indústrias do segmento no País, maior oferta de gás natural é condição imprescindível para crescer ou, mais do que isso, evitar o acirramento do processo de desindustrialização já verificado em outros setores. Seu presidente, André Cordeiro, disse, em entrevista para A Tribuna, que muitos investimentos podem ser destravados, e que essa é a oportunidade para o Brasil crescer e ganhar mercado internacional, em especial no pós-pandemia e guerra Rússia-Ucrânia, que desabasteceu o mundo de insumos imprescindíveis para a economia.


O Brasil tem produção elevada de gás natural. Cerca de 85% vêm dos poços do pré-sal, mas há uma reinjeção desse gás na ordem superior a 50%. A reinjeção representa maior desempenho na extração do óleo, mas já há o entendimento de que reduzir esse processo para ampliar a oferta de gás natural via gasodutos não compromete a eficiência da indústria petrolífera.


O atual governo tem focado seu discurso na necessidade de reindustrializar o País, processo complexo e demorado, e acerta ao abrir espaço para o debate com os próprios representantes do setor. O gás natural pode ser o primeiro passo, e está em plena sintonia com uma agenda de sustentabilidade, igualmente importante nas relações internacionais.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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