O setor agropecuário tem apresentado bons resultados nos últimos anos. Apesar de todas as dificuldades econômicas enfrentadas no país, a produtividade e a eficiência do agronegócio cresceram, houve recordes na produção de grãos e as exportações avançaram, sustentando a balança comercial brasileira.
Tal sucesso está ligado a ganhos de produtividade, avanço da mecanização e a maior concentração da produção, além, é claro, da demanda crescente pelos produtos brasileiros no mercado internacional.
Nota-se, porém, que o emprego no campo não acompanhou o movimento de alta: segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, a população ocupada nas atividades de agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura diminuiu a uma média de 2,6% ao ano entre o terceiro trimestre de 2012 e igual período de 2019.
Isso significa que o setor deixou de empregar quase 1,8 milhão de pessoas desde 2012. Somente entre 2018 e 2019, foram 174 mil pessoas a menos trabalhando no campo, contrastando com um crescimento estimado de 2,39% da produção agropecuária.
Deve-se argumentar, com certa razão, que ganhos de produtividade no campo contribuem para a economia nacional, gerando empregos em outras áreas. No caso da mecanização, há maior demanda por máquinas e equipamentos, favorecendo a indústria. E novos e modernos processos produtivos, utilizando tecnologia avançada, trazem resultados positivos para o setor de serviços.
Embora as contratações tenham tido ritmo menor, o balanço do período 2012-2019 ainda é positivo: a população ocupada total cresceu a taxa média de 0,7% ao ano neste período, mesmo com as quedas registradas em 2015 e 2016, anos de profunda recessão econômica. Nesse período, entretanto, a participação dos trabalhadores do setor agropecuário na população ocupada brasileira recuou de 11,5% para 9,1%.
Tal movimento é inevitável, e aconteceu em todos os países do mundo. O campo produz mais com menos gente trabalhando: a maior produtividade leva à substituição do trabalho por capital, e tem como consequência a concentração da produção, eliminando os pequenos produtores.
A utilização de mão de obra intensiva, não qualificada e sazonal, caracterizada pela figura dos boias frias, é substituída por profissionais mais qualificados. No terceiro trimestre de 2012, 84,7% dos ocupados na agropecuária não tinham instrução ou tinham apenas o ensino fundamental; em 2019, esse número caiu para 74,7%.
Embora ele seja ainda alto, há mudança, com demanda maior por pessoas com nível superior, como engenheiros de produção e mecânicos, projetistas e designers de máquinas agrícolas, além de profissionais de compras, finanças, contabilidade, recursos humanos e administrativos que dão suporte para os grandes conglomerados agroindustriais.