Dentro e fora da escola

A educação para a paz é possível dentro das escolas mas, primeiro, é preciso admitir que o problema da Violência existe

Por: ATribuna.com.br  -  21/04/24  -  06:46
  Foto: Reprodução/ Redes Sociais

Não pode nem deve ser tratado como caso isolado a morte do adolescente Carlos Gomes, de 13 anos, na terça-feira, supostamente em decorrência de agressões sofridas por alunos da escola em que estudava, a Júlio Pardo Couto, em Praia Grande. Ainda há muitas informações desencontradas e a polícia civil promete rigor na apuração das responsabilidades, até de eventual descaso por parte da direção da escola, e de mau atendimento e negligência dos profissionais da saúde que atenderem o pai do jovem nas inúmeras vezes em que o levou ao pronto-socorro, com relato de dores e falta de ar do filho. Independentemente das conclusões a que chegarão a Polícia Civil e a Diretoria Regional de Ensino de São Vicente, um fato é incontestável: as brigas dentro da escola, com agressões físicas e um grau de violência descabido, são reais e chocam, como se pode constatar nos vídeos que circulam pela internet.


O caso só ficará pior se forem verdadeiras as falas do pai do menino, de que ouviu da direção da escola, nas vezes em que pediu providências contra as agressões sofridas pelo filho, que “eles eram crianças e deveriam se resolver sozinhos”, sem a intervenção dos adultos. Esse é o trecho que merece uma reflexão mais apurada, na medida em que brigas dentro da escola, troca de agressões verbais e físicas e bullying são uma realidade que parece se perpetuar, e não só na rede pública, mas na particular também.


Muito já se foi debatido sobre o tema, já há legislação específica sobre bullying e movimentos de mães e educadores surgem a todo momento para impor um basta à leniência das escolas e, às vezes, até da própria família dos agressores. Ainda assim, casos acontecem todos os dias e, agora, com o agravante de que podem se estender para o universo virtual, o cyberbullying. Muitas crianças e adolescentes vítimas dos agressores se recolhem na solidão ou simulam uma falsa normalidade dentro de casa e na própria classe, mas há relatos impactantes de pais aos descobrirem a automutilação, a ingestão precoce de álcool e drogas e até as tentativas de suicídio por parte dos filhos.


No caso específico de Praia Grande, pode até ser que a morte do aluno de 13 anos não tenha sido em decorrência das agressões e, sim, de qualquer outra enfermidade, mas é certo que os vídeos que exibem as brigas e o comportamento do filho deveriam há muito ter acendido o sinal de alerta de uma escola atenta e empática.


Há ferramentas e metodologias de eficiência comprovada para transformar ambientes escolares violentos e distópicos em laboratórios para a construção da paz. A justiça restaurativa, implantada com sucesso em várias escolas da região e até no Judiciário, é a mais abrangente e sistêmica, levando o conceito do diálogo para além dos muros escolares. A educação para a paz não é utopia, é real e possível, mas é preciso que se queira alcançá-la. O primeiro passo, porém, é admitir que o problema existe, e esse parece estar sendo o grande desafio.


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