A transição aos carros mais limpos

Paralelamente aos interesses econômicos, não se deve esquecer que a transição é uma urgência ambiental

Por: ATribuna.com.br  -  07/05/24  -  06:27
  Foto: Alexsander Ferraz/AT

A transição dos carros a combustão para os movidos a energias limpas se revelou mais difícil do que os governos e montadoras esperavam. Os países ricos deram subsídios para acelerar as vendas, o que de início funcionou, mas falta de infraestrutura, resistência dos motoristas e dúvidas sobre a oferta de insumos para baterias sinalizam o recuo da comercialização. Ao mesmo tempo, a indústria automobilística do Ocidente enfrenta a concorrência agressiva de preços baixos dos fabricantes chineses.


Tais dificuldades, entretanto, reforçaram a estratégia brasileira de transição moderada, criticada por analistas e apontada como atrasada, conforme mostra reportagem publicada ontem. Enquanto a maioria dos países optou por modelos exclusivamente eletrificados, até porque não dispõem de fontes abundantes de energia limpa, o Brasil se decidiu pelos veículos híbridos flex, a etanol e eletricidade. Para efeito de comparação, um híbrido flex com etanol emite 19% de gás carbônico em relação ao totalmente a gasolina.


Por trás disso tem uma evidente pressão do agronegócio e da indústria, mas para os especialistas foi um decisão óbvia e vantajosa. Por que o País abriria mão de suas dimensões continentais que viabilizam a produção de biocombustíveis, dependendo totalmente de minérios e outros insumos que os eletrificados exigem? O álcool é sustentável e tem rede de distribuição já instalada no Brasil, reduzindo de forma importante custos da transição. Mas o etanol está sujeito aos impactos climáticos no agronegócio e às cotações de mercado, que de tempos em tempos encarecem seu consumo.


Uma mudança radical no setor automobilístico também teria grande impacto na indústria e na mão de obra. Além das fábricas de motores a combustão, também seriam desativados sistemas de refrigeração, escapamento e aspiração.


Hoje, os carros elétricos têm uma participação irrisória de quase 1% no mercado brasileiro, repetindo o fenômeno típico de novas tecnologias que chegam ao mercado. São produtos mais caros e consumidos pela elite até que sua comercialização se torne massificada e mais barata. Estima-se que a transição da combustão da eletrificação vai levar dez anos para se consolidar no Brasil, o que é muito tempo perante outros países.


Além de estar previsto no Mover, o programa do governo que estimula energias limpas nos veículos, o Congresso votará projeto que garante o etanol nos híbridos e amplia sua mistura nas gasolina. O Mover também tem um claro objetivo de resgatar a indústria automobilística do País e num primeiro momento causou boa impressão, sendo seguido do anúncio de R$ 120 bilhões em investimentos pelas empresas. Mas paralelamente aos interesses econômicos, não se deve esquecer que a mudança é uma urgência ambiental e que essa passagem precisa dar resultados por uma questão de sobrevivência da atual e das próximas gerações.


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