A falência da prevenção de desastres

A tragédia que se abate sobre o Rio Grande do Sul é um lembrete doloroso de que não podemos mais adiar ações concretas

Por: ATribuna.com.br  -  09/05/24  -  06:32
  Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Enquanto as águas avançam implacáveis pelo Rio Grande do Sul, deixando um rastro de dor e destruição, somos forçados a encarar a crua realidade: a gestão negligente dos nossos governantes transformou tragédias anunciadas em horrores inevitáveis. Em 2020, Santos, São Vicente e Guarujá choraram sob as águas revoltas e os deslizamentos de terra que deixaram 45 mortos. Em 2023, foram 65 vidas perdidas em São Sebastião e Ubatuba. E as lições não foram aprendidas. A repetição desses cenários devastadores não é mera coincidência. Trata-se do resultado de políticas públicas falhas e de investimentos escassos na prevenção de desastres naturais.


Enquanto comunidades inteiras se afogam em meio às chuvas torrenciais, os números não mentem: os gastos federais com prevenção de desastres diminuíram 74,8% entre 2013 e o ano passado, de acordo com levantamento da ONG Contas Abertas. O resultado? Vidas perdidas, lares destruídos e um país de luto.


Nos últimos anos, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o País registrou um aumento significativo no número de eventos extremos, como chuvas intensas, enchentes, deslizamentos de terra e secas prolongadas. Somente no ano passado, houve 1.161 desastres, sendo 716 associados a eventos hidrológicos, como transbordamento de rios, e 445 de origem geológica, que englobam deslizamentos de terra. O número supera os dados registrados em 2020 e 2022. Ainda em 2023, foram computadas 132 mortes associadas a eventos relacionados a chuvas, com 74 mil desabrigados e 524 mil desalojados.


Mas não podemos ignorar o contexto mundial. O aquecimento global é uma realidade inegável, e seus efeitos já se fazem sentir em todos os cantos do planeta. Até mesmo os Emirados Árabes Unidos, conhecidos por sua opulência e modernidade, não escaparam da fúria da natureza neste ano, quando chuvas torrenciais pegaram todos de surpresa em Dubai. A frequência e a intensidade desses desastres estão intrinsecamente ligadas a fatores como o desmatamento, mudanças climáticas e crescimento desordenado das cidades. O aumento da urbanização sem planejamento adequado expõe mais pessoas e infraestruturas vulneráveis aos riscos naturais.


Diante desse cenário, é inadmissível que nossos governantes continuem virando as costas para a prevenção de desastres naturais. É urgente que eles assumam sua responsabilidade e ajam de forma decisiva para proteger a vida e o patrimônio dos cidadãos. Os recursos existem, mas é preciso vontade política para utilizá-los de maneira eficaz. A tragédia que se abate sobre o Rio Grande do Sul é um lembrete doloroso de que não podemos mais adiar ações concretas. O tempo para discursos vazios e promessas não cumpridas acabou. O Brasil exige e merece lideranças responsáveis e comprometidas com a segurança e o bem-estar de todos os seus cidadãos. Chegou a hora de agir.


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