Tragédia da chuva

Preocupa sobremaneira a omissão do poder público, com administradores apenas lamentando a "má sorte" dos eventos climáticos extremos, sem providências efetivas

Por: Da Redação  -  31/01/20  -  08:39

As chuvas torrenciais que atingiram Belo Horizonte nos últimos dias provocaram o maior desastre da história da cidade desde sua fundação, em 1897. Além de duas mortes, avenidas e ruas foram alagadas e muitas delas destruídas pela força das águas, com carros arrastados pelas enxurradas. As chuvas foram intensas - na noite de terça-feira (28), em apenas duas horas e meia, as precipitações foram mais da metade da média de todo o mês de janeiro.


Essas ocorrências não são isoladas. A multiplicação de eventos climáticos extremos vem se dando em escala assustadora em todo o mundo, e, no caso de Minas Gerais, as estatísticas sobre chuvas mostram grave intensificação na última década, confirmando que o aquecimento global é um fato real que precisa ser considerado pelas autoridades em todos os níveis e não negado, como resultante de ciclos naturais do planeta.


Em todo o estado de Minas Gerais, houve até agora, apenas neste verão, 55 mortos e 46 mil desalojados. As precipitações superaram, em Belo Horizonte, a marca de 170 mm em curto espaço de tempo em duas ocasiões recentes, trazendo destruição generalizada. Não há como negar que a emissão de gases de efeito estufa intensifica a formação de vapor d´água, a produção de nuvens poderosas e o choque entre massas de ar, produzindo tempestades gigantescas.


É preciso, portanto, agir para remediar e atenuar os efeitos climáticos extremos. Ações urgentes de adaptação são necessárias. Não é possível reconstruir cidades, cuja ocupação desordenada - moradias em áreas de risco, como morros; impermeabilização extrema do solo; canalização de rios e córregos - agrava, de modo substancial, o problema climático. Mas é possível ações progressivas, com obras que reduzam os efeitos negativos, como piscinões que possam armazenar as águas de chuva, além de planejamento para criar mais áreas verdes nas ruas e nos empreendimentos imobiliários, de modo a permitir a absorção das águas de chuvas.


Preocupa sobremaneira a omissão do poder público, com administradores apenas lamentando a "má sorte" dos eventos climáticos extremos, sem providências efetivas. É preciso prevenir de modo eficiente, principalmente áreas de maior risco, e monitorar tempestades, avisando a população previamente. É lamentável ainda que os gastos federais com prevenção de desastres estejam diminuindo: em 2019, eles foram os menores em 11 anos. A previsão orçamentária era de R$ 306 milhões, 93% a menos do destinado em 2012, e foram efetivamente aplicados apenas R$ 110 milhões.


O verão ainda se prolongará até fim de março. Até lá, infelizmente, deverão acontecer outras chuvas torrenciais em diferentes lugares, com o rastro de mortes e destruição. É hora de agir e corrigir erros e omissões históricas, de modo a reduzir os riscos nos próximos anos.


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