Sem ilusões na economia

Os países ricos não estão nada bem – apenas começam a sair da pandemia em condições melhores que as do Brasil

Por: Da Redação  -  09/06/20  -  12:13

Índice do mercado de trabalho americano e o desempenho da bolsa brasileira dos últimos dias contrariam o mundo real que se vê nas ruas. Em meio às notícias de que os Estados Unidos geraram 2,5 milhões de empregos e de que o Ibovespa somava até ontem sete sessões seguidas de altas, os analistas continuam disparando as mais assustadoras apostas para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, de retração de 7% a 12% neste ano. Por isso, não se deve se iludir com sinais positivos ainda pontuais, que dependem de períodos mais amplos e de outros fatores simultâneos para se consolidarem, como redução das falências e geração de emprego no mercado nacional. No final das contas, não há como abrir mão de ações de estímulo por parte do governo que amenizem quedas mais acentuadas do PIB e conduzam a economia para um cenário de recuperação, infelizmente ainda desconhecido. 


A Tribuna publicou na edição de segunda-feira (8) que a transferência de alunos da rede privada para a pública estadual aumentou dez vezes entre janeiro e abril, na comparação com igual período do ano passado, sinal de impacto da covid-19. Mas, não se pode esquecer que a economia patinava desde o começo do ano. Por isso, no caso brasileiro, esses dois fatores pesam simultaneamente nas contas das famílias. 


Porém, os países ricos não estão nada bem – apenas começam a sair da pandemia em condições melhores que as do Brasil. A análise dos economistas é de que a injeção de trilhões de dólares ou euros ou ainda muitos ienes e yuans garantiu liquidez – recursos extra para que a recessão não sufoque o investimento e o consumo. Mas até quando esse capital vai dar conta do recado? Será que haverá mais dinheiro para reanimar as engrenagens econômicas? Deve-se lembrar ainda que os EUA vinham de um aquecimento propiciado pela redução de impostos e que muitos economistas já achavam que entrariam em recessão em 2021, porque esse empurrão começaria a perder força. 


No caso brasileiro, as questões são mais complexas e os problemas são múltiplos. Os governos já estavam quebradas, portanto, será difícil manter contínuas injeções na economia, o que se supõe que o governo será tentado a emitir moeda, com cheiro de inflação como consequência. Há ainda a tensão política e um governo que praticamente se arrasta – se continuar assim, não haverá como gerar ânimo em um momento de tanta desconfiança. 


No caso da bolsa, já há diagnóstico para sua recuperação. Foi a que mais se desvalorizou no mundo e, neste momento de alívio no exterior, os investidores voltaram a optar pelo risco, o que atrai capital, inclusive do exterior. Mas o mercado, por sua natureza, tenta antecipar tendências. Se o País mergulhar na pior das previsões, não haverá como escapar. Entretanto, se o governo retormar seu rumo e os impactos externos se atenuarem, haverá chances da equipe econômica conseguir resultados positivos.


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