Reação imobiliária

O discurso está cada vez mais pelo descontrole fiscal, o que gera desconfiança nos mercados, inclusive o imobiliário

Por: Da Redação  -  22/09/20  -  09:25

A reação do mercado imobiliário em plena recessão provocada pela pandemia segue amparada em três pontos - queda dos juros em níveis nunca vistos, investidores conservadores avessos à volatilidade da bolsa e demanda reprimida. Este é o trio de condições que estimulou a venda de apartamentos e casas até agora. Pode-se acrescentar ainda que os bancos, vislumbrando a disposição dos compradores de assumirem compromisso financeiro em tempos difíceis, lançaram novas linhas, como a corrigida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Aliás, o IPCA ainda não foi contaminado pela disparada dos alimentos e continua razoavelmente controlado (0,24% ao mês e 2,44% ao ano em agosto), o que não inviabiliza essa modalidade. Por outro lado, os construtores viram uma oportunidade para desaguar o estoque, sobra do boom imobiliário e do sonho do petróleo que não se consumou na região.


Há ainda o tradicional mercado dos usados, muito forte em Santos e que atende quase todas as classes sociais. Exceto a mais pobre, que não tem recursos para achar moradias acessíveis não só em Santos, mas em qualquer cidade do País se não houver subsídio e financiamento popular bancado pelo governo.


Como bem explicou o presidente da Associação de Empresários da Construção Civil da Baixada Santista (Assecob), Ricardo Beschizza, em entrevista a A Tribuna no domingo, essa reação da compra e venda não é aquecimento e sim uma demanda reprimida. São compradores que já pretendiam fazê-lo nos últimos anos e aguardavam melhores condições, como preços e juros atraentes e economia mais confiável. Obviamente que esta última, a do País em prosperidade, não se tem. A impressão que fica é que uma parte da sociedade previdente que tem recursos guardados aproveitou o momento com a sensação de que uma oportunidade assim pode não durar muito.


Por isso, é muito frágil essa reação imobiliária, que, aliás, destoa do alto desemprego e das inúmeras empresas que fecharam as portas ou que ainda operam por estímulos governamentais (crédito via Pronampe, suspensão ou redução de jornada/salários e auxílio emergencial). Daí a profunda preocupação que se tem com os passos que o governo tem dado. Percebe-se que por motivação eleitoral a equipe econômica tem se desdobrado para identificar fontes de recursos para o Renda Brasil, que agora está em gestação no Congresso, e retomar pacote de obras que sobraram de outros governos. Há muitas referências a reformas e privatizações, mas de forma superficial ou secundária. O discurso está cada vez mais pelo descontrole fiscal, o que gera dúvidas e desconfiança nos mercados, inclusive o imobiliário, e na própria população.


A redução da tensão entre poderes foi uma grande conquista. Agora é preciso acelerar com as medidas do dia a dia, como as que deram novo gás à compra e venda de imóveis, para não atrapalhar o que, bem ou mal, tem funcionado.


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