Querô e os jovens

Iniciativas sem fins lucrativos podem ser uma excelente alternativa para a questão da promoção da juventude empobrecida

Por: Da Redação  -  15/07/19  -  19:33

Os altos índices de violência, populações numerosas residindo em bolsões de pobreza e um mercado de trabalho instável nas últimas décadas são fatores que prejudicam em larga escala a inclusão dos jovens na sociedade e na economia. Governos anunciam programas sociais ou trocam seus nomes quando as eleições escolhem novos gestores, mas persistem os adolescentes seduzidos pela criminalidade ou sendo direcionados a empregos de baixa qualidade. Entretanto, iniciativas sem fins lucrativos, associadas ou não ao poder público, podem ser uma excelente alternativa para essa questão da promoção da juventude empobrecida.


É o caso do Instituto Oficinas Querô, instalado na Vila Nova, um bairro carente de Santos, e que em 13 anos já trabalhou com 440 jovens. O atrativo da organização é estimular a arte cinematográfica. À frente ou por trás das câmeras, os alunos lidam com questões como pobreza, racismo, violência e direitos LGBT, intimamente ligados à condição social e à realidade diária deles. A vantagem dos participantes é que eles se especializam e, conforme o esforço individual, acabam se inserindo neste mercado da economia criativa.


O acesso à tecnologia ficou mais barato, afinal uma produção audiovisual de baixo custo pode ser produzida pelo celular, e a visibilidade de um trabalho também conta com a força das redes sociais. E o trabalho social do Querô os expõe às técnicas da carreira cinematográfica. Trata-se de um mercado restrito e competitivo, onde as primeiras portas são difíceis de serem abertas. Entretanto, o instituto já tem sua qualidade reconhecida além da Baixada Santista.


Nas contas do instituto, de 30% a 50% de seus alunos conseguem se inserir. É o resultado prático do Querô com moradores da região que vêm de uma condição social que geralmente sugere que eles não serão capazes de superar as barreiras de uma formação profissional, que hoje se torna mais especializada e cada vez mais cara. Além do sucesso como resultado do esforço individual, programas como esse e o aprendizado em uma escola ou cursos de capacitação têm uma missão profunda – que é mostrar a importância do convívio em sociedade e do respeito às regras para que se possa evoluir.


O país resolveu o problema do acesso da infância à educação, mas ainda não fez a lição da qualidade da aprendizagem até a conclusão do Ensino Médio, onde ainda ocorre muita evasão. Diz-se que os jovens consideram as salas de aulas enfadonhas mediante as inovações da tecnologia. Na verdade, mesmo antes das novas ferramentas eletrônicas, a rede pública já era defasada.


A cultura e o esporte como parte das disciplinas escolares nunca foram vistos com seriedade no país, apesar de serem duas modalidades de forte apelo para o convívio dos jovens entre eles e a sociedade. O Estado falha nesse campo, mas as organizações sociais provam que podem dar sua colaboração.


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