Prejuízo garantido nos hospitais

Compreende-se que tanto o Santo Amaro quanto a Santa Casa tomaram decisões radicais temendo a insolvência financeira

Por: Da Redação  -  19/07/19  -  13:27

A habilitação do Hospital dos Estivadores como unidade de referência de cirurgia vascular pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na Baixada Santista não chega a ser boa notícia, observando-se as circunstâncias dessa condição. Isso porque o Santo Amaro, de Guarujá, pediu descredenciamento do serviço ao Departamento Regional de Saúde da Baixada Santista (DRS-4). A Santa Casa, convidada para essa finalidade, dispensou a oferta. Por trás das decisões das duas últimas instituições está o prejuízo. O atendimento por paciente de cirurgia vascular custa R$ 9,9 mil, mas a verba específica encaminhada pelo Ministério da Saúde, conforme o Santo Amaro, é de R$ 9,7 mil. Além do valor não cobrir o mínimo necessário nem dar um extra que permitiria investir em melhorias, o que espanta é que os R$ 9,7 mil foram definidos em 2006 – há exatos 13 anos. Considerando-se o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do período, chega-se a uma inflação de 102%. Tomando como base esse indicador, a remuneração deveria estar hoje em R$ 19,6 mil.  


Compreende-se que tanto o Santo Amaro quanto a Santa Casa tomaram decisões radicais temendo a insolvência financeira. Para o Estivadores, sua situação é preocupante: o hospital recebe verba estadual, que será insuficiente para cobrir os custos da cirurgia vascular. O que preocupa é que as autoridades não vislumbram qualquer possibilidade de reajustar o valor previsto pelo SUS. Para resolver o problema, o DRS-4 busca uma nova instituição para dividir a demanda do atendimento. Se não encontrar ou o Estivadores não der conta do serviço, a região simplesmente perderá a insuficiente verba hoje encaminhada à Baixada Santista.  


A cirurgia vascular é fundamental para pacientes com problemas de circulação causados pelo diabetes e por acidentes. Sem o atendimento, esses doentes podem sofrer amputações. Além do drama pessoal, a deterioração do quadro da saúde do indivíduo gera uma demanda maior ainda por serviços, o que consequentemente vai provocar mais custos. Essa situação aponta uma imensa falha no planejamento da saúde pública da região. É impressionante como se deixa uma situação que já é dramática ficar pior ainda.  


O secretário de Saúde de Santos, Fábio Ferraz, responsável pelo Estivadores, afirma que o hospital, tornando-se referência em cirurgia vascular, receberá R$ 44 mil mensais do Ministério da Saúde para realizar, em média, 34 procedimentos a cada 30 dias. A ideia dele é contar inicialmente com recursos estaduais e, pouco antes do final do ano, conquistar a habilitação para receber a verba federal. Entretanto, não se pode confiar na chegada de dinheiro público. Há décadas, com ou sem crise econômica e alta ou queda de arrecadação de impostos, a saúde é relegada a segundo plano na região, sob constantes problemas financeiros. 


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