Os custos do novo coronavírus

Os prefeitos estarão obrigados a demonstrar excelente capacidade de gestão de um volume bem menor de recursos

Por: Da Redação  -  03/06/20  -  14:37

Além das quase 500 mortes registradas em apenas dois meses na Baixada Santista, a Covid-19 também resultou em um colossal peso nas contas públicas municipais. Segundo A Tribuna levantou, as prefeituras da região já gastaram pelo menos R$ 154 milhões com a pandemia do novo coronavírus, como aquisição de medicamentos e equipamentos hospitalares. A conta, que não considera Mongaguá (não informou seus dados a tempo), para efeito de comparação, equivale ao dobro do que Itanhaém gastaria em um ano todo com as despesas da saúde. Essa doença, que atingiu proporções inimagináveis, mas que escancarou deficiências estruturais na saúde pública e profunda divisão política para momentos tão sérios como agora, aos poucos vai deixando claro seu estrago. Impacto esse que não se restringe à recessão econômica, mas também ao sufocamento do caixa dos entes públicos, das prefeituras à União. 


Estados e municípios receberão socorro de R$ 60 bilhões da União, uma cifra expressiva, o equivalente a 389 vezes o gasto regional com a covid-19 em dois meses, mas que se suspeita que não será suficiente para suprir a demanda de todo o País. Deve-se lembrar ainda que todo o setor público enfrenta perdas volumosas em arrecadação com o ICMS, entre outros tributos federais, estaduais e municipais. Isso trará reflexos imediatos na disponibilidade de recursos. O problema continuará mesmo com a retomada da atividade econômica, que não se sabe quando ocorrerá e a que ritmo, pois as restrições, ainda que parciais, de convívio social persistirão ao longo de meses. Por isso, haverá um sério comprometimento dos recursos próprios ou de repasses federais e estaduais para as prefeituras. 


Não haverá outra solução aos prefeitos do que deslanchar austero programa de gastos, com a difícil missão de definir prioridades, o que poderá desabastecer algumas áreas dos municípios. O socorro federal impôs como condição a suspensão de reajustes salariais do funcionalismo. Em cidades pequenas e pobres, haverá consequências profundas para as economias locais, pois o faturamento do comércio depende todos os meses dos salários dos servidores. 


Por isso, os prefeitos, muitos deles próximos de uma campanha pela reeleição, estarão obrigados a demonstrar excelente capacidade de gestão de um volume bem menor de recursos, mas de problemas em escala exageradamente alta. No caso da saúde, ainda não há certeza sobre sequelas que a Covid-19 pode ter deixado nos infectados. É possível que parte dessas pessoas acabem dependendo de mais atenção do setor público. 


O novo coronavírus, mesmo que desapareça das estatísticas daqui a alguns meses, se mostra um mal de consequências prolongadas. Falta saber se as autoridades se conscientizarão sobre a importância dos investimentos em saúde. Essa demanda é antiga e constante nas campanhas eleitorais, mas que não recebe a devida atenção. 


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