O fantasma das ruas vazias

As próximas semanas serão dramáticas para o Governo Bolsonaro, que precisa encontrar uma brecha nas contas públicas

Por: Da Redação  -  19/10/20  -  11:00

Em uma reedição das ruas e pontos turísticos esvaziados, várias regiões da Europa voltaram a experimentar neste final de semana o drama do isolamento social para tentar segurar a segunda onda da covid-19. Enquanto a Itália registra 10 mil novos casos por dia e a Alemanha outros 8 mil, Portugal aponta 2,5 mil e a França, impressionantes 32 mil. Nos Estados Unidos, a situação é trágica, com 69 mil infecções diárias assombrando esse final do Governo Trump. Enquanto isso, na América Latina, a incidência segue em queda, apesar de ainda ostentar níveis preocupantes. No sábado, o Brasil contou com 23 mil novos registros. 


Esse repique anotado na Europa mostra que os alertas de que a pandemia não acabou são verdadeiros. No Velho Continente, a análise que se faz é de que os mais jovens se aglomeraram demais em festas, bares e praias no verão e se contaminaram. O risco é que o vírus volte a se espalhar entre os mais velhos, aumentando os números de mortos e a ocupação dos hospitais em plena inverno. 


A lógica indica que algo parecido vai acontecer no Brasil. Entretanto, por aqui, o combate foi tão ineficaz e nem se sabe o real nível de contaminação da população devido à baixa testagem. Diferentemente da Europa, onde a contaminação foi aguda – aumentou rapidamente, atingindo picos, e caiu entre três ou quatro meses, por aqui se estabilizou em platô e só agora se arrefece. De qualquer forma, é bom não abusar e achar que o Brasil vai escapar de eventual segunda onda. 


Enquanto a questão sanitária segue em suspense, o efeito prático da recontaminação europeia é o impacto na economia – lá e aqui, devido à interação comercial. No final de semana, os locais de diversão ficaram fechados, como na região de Paris, e nos próximos dias as restrições devem atingir outros setores da economia, exceto se os números de infecção logo caírem.


Mesmo assim, economistas brasileiros já começam a fazer as contas sobre o impacto do revés europeu no País. A expectativa é que a economia do Brasil deverá crescer menos do que o esperado no primeiro trimestre do ano que vem. Alguns analistas, apesar da completa imprevisibilidade proporcionada pelo vírus, acham que se o Produto Interno Bruto (PIB) fosse crescer 2,5% em 2021, talvez agora vá avançar apenas 1,5%. Um chute, na verdade, mas mesmo assim desalentador e preocupante. 


O que o Brasil mais precisa agora é de algum otimismo para o próximo ano, com melhora de arrecadação de impostos e geração de empregos. As próximas semanas serão dramáticas para o Governo Bolsonaro, que precisa encontrar uma brecha nas contas públicas para turbinar linhas de crédito e o Renda Cidadã. Em último caso, o Tesouro tem como esticar a dívida pública. Entretanto, os credores vão fazer a festa, cobrando juros mais altos para alimentar de dinheiro o setor federal. Assim, com ou sem vacina, o Brasil pode não ter fôlego para se recuperar. 


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