O bom senso necessário

Parte dos alunos que estudam para o Enem não tem acesso a recursos tecnológicos ou rede de internet

Por: Da Redação  -  17/05/20  -  12:32

As inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) começaram na última segunda-feira em meio a discussões sobre se a prova deveria ser adiada, já que praticamente todas as escolas do País estão fechadas e os alunos, tendo que estudar por conta própria. Os exames estão agendados para 1º e 8 de novembro, na versão impressa, e 22 e 29 de novembro, na versão digital, com provas em computador feitas em locais definidos pelo Ministério da Educação.


O ministro Abraham Weintraub tem defendido que ainda é cedo para definir se haverá ou não adiamento. Na sexta-feira, pela primeira vez, ele admitiu a possibilidade de remarcar as datas, mas disse <CW-32>que “é cedo para desistir do ano”. A hashtag #adiaenem se multiplica em redes sociais sob a alegação de que, feito neste cenário de pandemia e indecisões, o Enem prejudicaria muitos estudantes, principalmente, aqueles com menos recursos.


O Enem é um dos instrumentos mais importantes de acesso ao ensino superior, especialmente às universidades públicas – estaduais e federais. O exame, associado à política de cotas que veio sendo ampliada nos últimos anos, tem sido a garantia de entrada àqueles que, de outra forma, jamais acessariam o ensino de qualidade e referência oferecido pelas instituições federais. Além disso, prima por uma estratégia bastante diferente dos vestibulares convencionais, já que avalia o candidato por áreas do conhecimento.


No entanto, em meio à pandemia do coronavírus, boa parte dos alunos do Ensino Médio e aqueles que, já formados, pleiteariam uma vaga por meio do Enem, estão impedidos de continuar seus estudos com esse foco. Ao menos 4 em cada dez alunos não têm à disposição computador em casa, rede wi-fi ou aplicativos de estudo em seus celulares.


Essa é uma deficiência que se escancarou nesta pandemia, quando as escolas precisaram acelerar suas ferramentas digitais para garantir a continuidade do ensino a milhares de estudantes dos ensinos fundamental e médio. Se há lacuna de continuidade por falta de recursos a alunos em séries regulares de ensino, por que não haveria para aqueles que buscam uma vaga no ensino superior?


Para esses, estudar com foco no Enem implica necessariamente em frequentar cursos pré-vestibulares, cursinhos comunitários ou aulas gratuitas em instituições. Além disso, muitos dos estudantes carentes vivem outra realidade em casa, que vai além dos estudos: garantir o sustento da casa, completar o orçamento. Em famílias onde o desemprego já se faz presente, estudar para o Enem ficou em outro plano.


Ainda que não se tenha uma data definida para o fim da pandemia, mais sensato será ao Ministério da Educação anunciar que sim, as datas inicialmente marcadas estão suspensas. Essa notícia em muito aliviaria a tensão e angústia naturais a esses jovens nesta fase da vida estudantil.


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