Novo mundo financeiro

O mundo capitalista precisa de desembaraço para fluir, mas é alguma regulamentação é recomendável

Por: Da Redação  -  29/09/20  -  09:11

Em meio à popularização da tecnologia, no Brasil os confortos garantidos por ela têm limites. Por exemplo, a desbancarização – brasileiros que não têm uma conta sequer – ainda atinge 40 milhões no País. Pode se considerar ainda que a pandemia ajudou a revelar que a exclusão tecnológica é mais ampla e tem diversos níveis. É o caso dos alunos pobres que não conseguiram acessar as aulas remotas porque não possuem internet em casa ou por suas cidades ou bairros afastados não disporem de banda larga. Há ainda o triste caso dos beneficiários do auxílio emergencial que sofreram para acessar seus recursos devido a celulares velhos ou baratos incapazes de operar o aplicativo da Caixa. Para os tecnocratas que têm mil soluções e pouco conhecimento de mazelas sociais deve ter sido um espanto.


Agora, mais uma facilidade se aproxima, claro, com limitações. O Banco Central lança em novembro o Pix, um meio de pagamento operado com uma chave digital ou por QR Code. A novidade vai dispensar o cartão bancário nas compras ou as tarifas, em média de R$ 10, que os bancos faturam a cada envio de uma TED – transação que já dispensa funcionários em agência bancária e movimentação de dinheiro em espécie. Ainda assim, as TEDs são cobradas ou embutidas em pacotes caros que garantem algumas unidades por mês.


O Pix é um avanço contra a desbancarização, mas não uma total democratização no acesso ao sistema financeiro. Isso porque esse meio vai exigir uma conta no banco, mesmo que sejam aqueles digitais gratuitos ou as carteiras virtuais, como PicPay e Mercado Pago. E será necessário um celular razoável. Se o uso for em regiões remotas, surge o problema de garantir uma boa conexão. De qualquer forma, a grande vantagem nesse caso será estimular a concorrência não só entre os bancos, mas destes com seus rivais digitais e as alternativas eletrônicas que aparecerem. Essa disputa é importantíssima porque os custos bancários são elevados no Brasil e excludentes. É realidade para milhões de brasileiros enviar uma ajuda financeira de tempos em tempos para parentes em regiões distantes. Ou ainda microempreendedores precisarem de custo financeiro praticamente zerado para viabilizarem negócios baratos de todo o tipo.


Resta ainda saber até que ponto o BC está disposto a ser vanguardista no segmento de pagamentos. Trata-se do caso do Facebook, que pretende usar o Whatsapp para enviar recursos. Este é apenas um dos vários meios tecnológicos em desenvolvimento que escapam do monitoramento que os bancos centrais, fisco e outros órgãos governamentais, também as políciais, têm sobre o uso do dinheiro. São questões que as instituições convencionais terão que responder, sob risco de ficarem irrelevantes. O mundo capitalista precisa de desembaraço para fluir, mas é preciso admitir que experiências antigas e recentes indicam que alguma regulamentação é recomendável.


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