Novo Mercosul

Talvez temendo tempos difíceis e porteiras fechadas, países ou os blocos aos quais estão inseridos aceleram negociações com um número maior de parceiros

Por: Da Redação  -  18/07/19  -  20:10

Pensou-se que grupos ressentidos pela globalização e a eleição de candidatos que dão vazão a esse sentimento gerariam revés profundo no comércio internacional. Exemplo disso é a guerra de tarifas do americano Donald Trump contra a China, que revidou. Porém, enquanto o discurso desses chefes de Estado é nacionalista, na prática seus governos contrariam o que foi traçado. Talvez temendo tempos difíceis e porteiras fechadas, países ou os blocos aos quais estão inseridos aceleram negociações com um número maior de parceiros.


Recém-associados, União Europeia e Mercosul, cada um, buscam outros blocos para fecharem parcerias. Nesta quarta-feira (17), os presidentes de Brasil, Paraguai e Uruguai foram recebidos pelo argentino Mauricio Macri em Santa Fé. As circunstâncias agora são animadoras, frente a um passado, até 2018, de total fracasso desse pacto. Enquanto os líderes regionais discutem como acelerar o entendimento com os europeus, seus diplomatas comerciais negociam outros tratados com o bloco de pequenos, mas riquíssimos países, formado pela Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça. Conversam ainda com Canadá e Coreia do Sul, dois gigantes intermediários, e mais tarde com os Estados Unidos.


No caso do acordo Mercosul União Europeia, aos poucos vai se inteirando da natureza do pacto, dos meandros das negociações e dos interesses contrariados. Por exemplo, o gigantismo da agricultura brasileira e a qualidade da carne argentina preocupamos produtores europeus, geralmente de menor porte e acostumados com restrições de mercados para preservarem preços que lhe proporcionem melhores lucros. Cientes da eficiência das pressões desse público sobre os políticos, quem de fato assinará os tratados, os negociadores incluíram garantias para desarmar os críticos. Na prática não abriram totalmente os mercados. No caso da carne, o Mercosul poderá exportar para toda a UE uma cota que equivale a 7,6% do total da produção francesa.


Economistas alertam que o Brasil falha ao tentar ser autossuficiente. Com isso, fechou seu mercado com base na substituição de importações. Agora tem uma produção diversificada, mas parte dela é ineficiente – não se pode vencer em todas as frentes. Mas um país continental com população numerosa como o Brasil não pode ser um importador em larga escala.

Muito se fala de economia menores que avançaram, como o Chile, rico em cobre e com menos habitantes que a Grande São Paulo, e a Coreia do Sul, ameaçada há séculos por guerras e abastecida com capital americano. A lição que eles nos dão é a abertura de mercado como fator de aperfeiçoamento de suas próprias vantagens. Talvez o Brasil, por seu gigantismo, possa focar super-habilidades definidas por regiões, como agronegócio no Centro-Oeste e turismo e indústria de alimentos no Nordeste. Isso exige planejamento e execução contínua, disciplinas as quais o país nunca executou com competência. 


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