Noronha, Angra

Deve-se considerar que o turismo no Brasil não emplaca por uma série de fatores

Por: Da Redação  -  16/07/19  -  19:48

A fala do presidente Jair Bolsonaro sobre as taxas caras que impedem o turismo de massa em Fernando de Noronha estão em linha com as ideias dele para a estação ecológica de Tamoios, em Angra dos Reis (RJ), onde foi multado por pesca ilegal em 2012. Nesse pacote, também incluem suas visões sobre o Ibama, o desmatamento e as reservas indígenas. São posições questionáveis com o efeito prático de causar danos irreparáveis ao meio ambiente.


Não se tem certeza ainda com qual profundidade o governo lidará com esses temas, mas se percebe a oportunidade com que Bolsonaro vê ao tuitar sobre eles, mesmo que de forma impensada. Ele acena de forma prática a seus eleitores, desde aqueles que se queixam das cobranças do Estado (taxas de Noronha) e os que pensam no Brasil grande (Cancún nas ilhas de Angra), até o agronegócio, que pode ser o pequeno/grande agricultor, que quer plantar e sente impacto da ambiental.


O questionamento de Bolsonaro até que é bem útil. Se a legislação ambiental não permite o investimento em uma região, isso é inquestionável. Entretanto, o Litoral Paulista serve como exemplo. Inúmeros projetos patinam por mais de uma década devido a um sistema de regras que prolonga o processo de aprovação ou até mesmo chegar à proibição de um empreendimento. A longa espera favorece até o investimento mal-intencionado, que pretende burlar as regras, pois as empresas corretas preferem evitar o desgaste.


A impressão que se tem é a de que Bolsonaro às vezes aponta sem estar calçado de argumentos precisos. Parece se basear no próprio feeling e no que recebe via redes sociais. No caso de Noronha, criticou as taxas que ficam acima dos R$ 100 e sobem conforme o tempo de permanência. Bolsonaro incluiu vídeo anônimo com a Praia do Sancho vazia e que “quase inexiste” turismo no Brasil. Mas quem vai a Noronha nada ao lado de tartarugas e peixes ameaçados e sabe que o aumento da frequência é incompatível com essa experiência.


O valor cobrado é questionável, mas há países que exigem taxas caras para evitar maior número de turistas. Veneza e Barcelona recebem, cada uma, cerca de 30 milhões por ano e já discutem a viabilidade de reduzir esse total. Lá, taxas já estão embutidas em aplicativos como o Airbnb (os valores são de alguns euros).


Deve-se considerar que o turismo no Brasil não emplaca por uma série de fatores. Desde campanhas publicitárias com poucos recursos à distância acentuada em relação aos grandes mercados que oferecem turistas – Japão-China, EUA e Europa. A violência também não pode ser ignorada.


No caso de Angra, implantar uma nova Cancún dependerá de grandes grupos enfrentarem a fúria de ambientalistas, pois exigirá intervenção em uma área com ecossistema em preservação. Aliás, a estação de Tamoios está inserida nas regiões que teriam que ser evacuadas em caso de acidente na usina nuclear vizinha.


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