Mudanças na Argentina

Com a posse do novo presidente, abrem-se perspectivas para a normalização das relações, o que é importante para o Brasil

Por: Da Redação  -  12/12/19  -  17:47

Tomou posse o novo presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciando que seu governo priorizará o crescimento econômico. Em seu discurso, sinalizou que o país está mais perto da moratória do que se esperava. Reiterou que a sustentabilidade do pagamento depende do crescimento e foi enfático ao afirmar que a Argentina quer quitar a dívida, mas carece de capacidade para fazê-lo.


A situação econômica no país vizinho é crítica. Há recessão, e o PIB deve cair 3,1% em 2019, sem perspectivas de recuperação para o próximo ano. A inflação tem se mantido em patamar muito alto e a estimativa é que chegue a 54,9% neste ano. A pobreza vem crescendo de modo acentuado, e a população nessa situação passou de 25,7% no 2º semestre de 2017 para 35,4% no 1º semestre de 2010. O desemprego também cresce, e a previsão é que atinja 10,6% da população em 2019.


O governo de Maurício Macri, que não conseguiu reeleger-se, deixa legado de fracassos econômicos, responsáveis pela volta do peronismo ao poder. Ainda é prematuro avaliar os rumos da nova administração argentina, mas é certo que Fernández tentará reverter o atual quadro. Restam dúvidas se o modelo nacionalista-populista voltará, já que o novo presidente e seu ministro da Economia, Martín Guzmán, não anunciaram como o governo pretende enfrentar a difícil questão da dívida argentina, hoje entre 80% e 100% de seu PIB.


Analistas consideraram o discurso de posse como sensato e moderado, não alimentando a divisão entre os argentinos. A abordagem econômica, embora vaga, revelou conteúdo mais pragmático que ideológico, embora a ênfase tenha sido a questão produtiva, com prioridade para os mais pobres. Ele tentou contemporizar como Fundo Monetário Internacional (FMI) ao dizer que buscará uma relação "construtiva e cooperativa" com o órgão e com os credores privados, apesar de ter deixado claro que não pretende adotar mais medidas de arrocho fiscal. Destaque-se que, no ano passado, o governo Macri recorreu a empréstimo de US$ 57 bilhões do FMI, do qual faltam receber ainda US$ 11 bilhões.


Merece atenção o clima mais conciliador nas relações Brasil-Argentina. Fernández anunciou que pretende buscar uma agenda ambiciosa, criativa, tecnológica, produtiva e estratégica entre os dois países, apoiada na sua "irmandade histórica dos dois povos" que vá além de qualquer diferença pessoal e ideológica. O Brasil, por sua vez, esteve presente na posse com o vice-presidente Hamilton Mourão, importante sinalização após anúncios de que o governo não enviaria representante.


Abrem-se perspectivas para a normalização das relações, o que é importante para o Brasil. Afinal, a Argentina é seu terceiro maior parceiro comercial, e isso deve ser trabalhado de modo positivo em prol do Mercosul e da América Latina.


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