Mais de 43 mil negros assassinados

O brasileiro negro, logo no seu nascimento, já tende a sofrer com o acesso precário a serviços e políticas públicas

Por: Da Redação  -  29/08/20  -  12:23

Ao analisar as chocantes estatísticas de assassinatos de negros no País, a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, diz se sentir em dois países diferentes, quando tais dados são comparados com o grupo dos não negros, formado por brancos, amarelos e índios. São números impressionantes que apontam a profundidade com que o racismo e as condições socioeconômicas minam não só as oportunidades, mas a sobrevida da população negra no Brasil. 


Esses dados estão no Atlas da Violência, estudo feito pelo fórum em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base em informações do Ministério da Saúde. Como nos critérios no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a classificação de negros considera pretos e pardos. Pois, o resultado mais chocante é que, dos 32,7 mil negros assassinados no País em 2008, no último ano do estudo, em 2018, a conta anual subiu para 43,8 mil, o equivalente a um décimo de todos os moradores de Santos. No caso dos brancos, indígenas e amarelos, dos 15 mil mortos em 2008, esses homicídios caíram para 12,7 mil uma década depois. Nessa comparação, a cada não negro assassinado, três negros foram mortos. 


Identificada a discrepância assustadora, o mais preocupante é que a estatística da morte continua crescendo de forma desfavorável para os pretos e pardos. Entre 2008 e 2018, o assassinato de negros aumentou 11,5%, atingindo 37,8 por 100 mil habitantes. Entre os não negros, houve uma queda de 12,9%, chegando à taxa de 13,9 a cada 100 mil. 


Segundo os pesquisadores, o estudo indica que as políticas públicas, da educação e saúde ao emprego e principalmente à segurança, foram eficientes para reduzir as mortes violentas de não negros e desastrosas por completo para proteger pretos e pardos. Se nos Estados Unidos, as ações violentas de policiais contra negros resultam em negociações e promessas de revisão das atuais condições, os casos registrados no Brasil parecem ter se tornado registros corriqueiros. Apesar da violência que expõem, são insuficientes para implicarem em uma guinada de rumo, de esforço de correção de uma situação que causa tanto sofrimento. 


A pesquisadora do Fórum, Amanda Pimentel, diz que a raça é um critério essencial para entender a vulnerabilidade social no Brasil. O brasileiro negro, logo no seu nascimento, já tende a sofrer com o acesso precário a serviços e políticas públicas que o levará mais facilmente para o risco de ser assassinado do que um cidadão branco. 


Infelizmente o debate sobre a importância das políticas públicas para a população negra está contaminada pela radicalização da ideologia e por posições arcaicas e preconceituosas. Os dados são claros e a Constituição preza a proteção da vida. É preciso adotar programas mais sérios e eficientes para combater um assustador número de mortes violentas dos negros no Brasil. 


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