Limites do crescimento

É preciso romper com o chamado "crescimentismo" como única forma possível de desenvolvimento

Por: Da Redação  -  05/10/19  -  19:45

Costuma-se associar crescimento econômico à melhoria da qualidade de vida. A expansão das atividades seria condição necessária e suficiente para que sejam gerados empregos, renda e, como consequência direta, melhores condições para todos. Tal correlação não é, contudo, automática: nem sempre o crescimento traz benefícios à maioria. Ele pode ser apropriado pela minoria, agravando a desigualdade existente; além disso, os recursos naturais são escassos, e há limites evidentes ao processo contínuo de crescimento econômico. 


O conceito de desenvolvimento reflete melhor a busca de melhores condições de vida: ele não necessariamente exige o crescimento, entendido como o simples aumento da produção, e sim o estabelecimento de novos padrões de vida, consumo e relações sociais, essenciais para garantir a sustentabilidade e o próprio futuro.


É preciso romper com o chamado "crescimentismo", que seria a busca incessante de aumento das atividades produtivas, em todos os setores, como única forma possível de desenvolvimento. Muitos estudiosos afirmam que essa ideia atingiu o limite, e não há espaço para que tal estratégia continue a ser adotada. Muito mais importante seria buscar a igualdade social no processo de desenvolvimento. Na medida em que os recursos são escassos e limitados, é preciso agir para redistribuir a riqueza. 


Há duas desigualdades a enfrentar: a clássica, entre ricos e pobres, e outra entre gerações. A primeira é conhecida: pouquíssimas pessoas concentram boa parte da renda mundial, enquanto a maioria vive em condições precárias e, na redução progressiva do consumo, indispensável para reduzir os danos ambientais, o compromisso dos ricos tem que ser bem maior do que o dos pobres. Mas há também riscos em relação ao futuro: se nada, ou muito pouco, for feito agora, a conta da crise ambiental será paga por quem é criança atualmente. 


A desigualdade existe em todos os níveis: econômico, entre ricos e pobres, e ela é também social, podendo ser notada claramente entre homens e mulheres, e entre brancos e negros. A mudança do modelo atual, que privilegia alguns grupos em detrimento de outros, é o grande desafio do século 21.


Essa preocupação é cada vez maior, e não restrita ao pensamento mais alinhado à esquerda. Nesse sentido, vale observar o que tem escrito Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central. Em recente artigo, ele deixou claro que a desigualdade é veneno que dificulta a construção de uma agenda de reformas necessárias ao crescimento. Sem as reformas, não há possibilidade de crescimento, e as oportunidades de melhoria de vida das pessoas são muito escassas. Ele foi além, afirmando que o combate à desigualdade é mais do que um imperativo moral - é condição necessária para o crescimento de forma sustentável ei inclusiva. 


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