Greves no Brasil

Paralisação dos petroleiros é a maior desde 1995, e a principal reivindicação do movimento era a suspensão da demissão de mil funcionários da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados, no Paraná

Por: Da Redação  -  20/02/20  -  09:39

Os sindicatos dos petroleiros continuam em greve, mesmo após a decisão desfavorável do ministro Yves Gandra, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que classificou o movimento como abusivo e ilegal. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) recorreu da decisão e a paralisação completou 19 dias nesta quarta-feira (19), com a adesão de 21 mil trabalhadores em 121 unidades da Petrobras, incluindo aqueles que não estão trabalhando e outros que promovem e participam de protestos.


Trata-se da maior greve da categoria desde 1995, e a principal reivindicação do movimento era a suspensão da demissão de mil funcionários da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados, no Paraná. Até aqui, Petrobras, Agência Nacional do Petróleo (ANP) e as distribuidoras negam a ocorrência de problemas no abastecimento do mercado.


Ao longo da greve, as entidades sindicais envolveram na pauta outras reivindicações, como críticas à nova tabela de turno adotada nas unidades operacionais da Petrobras e outros pontos do acordo coletivo vigente, mas notou-se também que ganhou corpo a resistência à privatização de setores da empresa, tema que tem claros contornos políticos.


O direito de greve está assegurado na Constituição, mas exige o cumprimento de regras que, segundo o TST, não teriam sido cumpridas neste caso. E é preocupante o fato da não aceitação de decisão de tribunal superior. Destaque-se ainda que o Tribunal Regional do Trabalho do Paraná suspendeu temporariamente a demissão dos funcionários da fábrica de Araucária, que deveria ter provocado mudança na conduta dos grevistas.


É preciso responsabilidade na decretação de paralisações. Há diferentes movimentos, que vão desde o não pagamento de salários até contestações de claro conteúdo político, que nada tem a ver com questões específicas das categorias. No Brasil, tem sido notado, desde 2016, redução do número de greves: no passado, houve 1.118, queda de 21% em relação às ocorridas em 2018, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). 


O recuo foi maior no primeiro semestre (36% em relação a igual período do ano anterior), e bem menor do segundo (3%), sugerindo que a recuperação econômica, ainda que lenta, combinada com a adaptação dos sindicatos à nova reforma trabalhista e o retorno da mobilização do setor público, explicaria o maior ímpeto grevista, que ganhou força no início deste ano.


Não há, porém, relação direta entre economia em crescimento e greves mais frequentes. Eles se mantiveram em patamar baixo entre 2000 e 2012, e cresceram exatamente no período da crise, chegando ao pico de 2.127 paralisações em 2016. Greves não representam a subversão da ordem necessariamente, mas não devem proliferar e comprometer a economia, prejudicando, no final das contas, a população.


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