Fake news e o vírus

Há o uso proposital das notícias falsas como forma de propaganda, disseminadas por milícias digitais. Tudo isso ganhou mais corpo ainda com a pandemia do novo coronavírus

Por: Da Redação  -  26/04/20  -  21:07

As redes sociais mudaram o comportamento das pessoas, suas relações e o convívio entre elas. A influência é notável, com reflexos nas atitudes e opiniões: não apenas no cotidiano, envolvendo o compartilhamento de vídeos, fotos e textos, mas também no plano político e ideológico. A força das redes sociais em eleições é reconhecida, e os partidos e candidatos dedicam-se a construir estratégias a partir delas. Governantes se comunicam com a população por mensagens instantâneas, no Twitter, Instagram e Facebook, com táticas de divulgação em massa, utilizando-se de robôs para essa finalidade.


Um dos maiores problemas causado pelas redes sociais foi o avanço das notícias falsas, as fake news. Pode-se argumentar que isso sempre existiu, mas no passado a circulação era muito mais restrita, dependendo do boca a boca entre as pessoas. Agora, a multiplicação dos conteúdos tem grande velocidade, e atinge rapidamente milhões de pessoas.


As fake news são, na maioria dos casos, afirmações ou notícias absurdas, que não deveriam resistir ao raciocínio simples de quem as recebe. A racionalidade, entretanto, é influenciada pelo "viés da confirmação": as pessoas, ao receber informações que coincidem com suas ideias e preferências, dão imediato crédito a elas, e, em tempos de redes sociais, apressam-se a clicar e enviar a um sem número de amigos ou seguidores.


Há o uso proposital das notícias falsas como forma de propaganda, disseminadas por milícias digitais. Tudo isso ganhou mais corpo ainda com a pandemia do novo coronavírus, tema que preocupa e angustia todas as pessoas. Circulam pelas redes mentiras sobre remédios milagrosos, tratamentos inadequados e estatísticas falsas. 


Elas acabam por criar um ambiente de desinformação que pode levar ao aumento do número de mortes ao redor do mundo. Basta lembrar o absurdo provocado pela veiculação de informações errôneas sobre vacinas nos últimos tempos, que levaram milhares de pais a suspender o procedimento em seus filhos, com consequências trágicas.


Diante dessa situação, alguns países têm criado novas leis com a finalidade de combater as fake news sobre a covid-19. Há dúvidas, porém, sobre a eficácia delas, e principalmente sobre sua real intenção que seria, em muitos casos, suprimir a liberdade de expressão e censurar a imprensa. Desde o início da pandemia, 16 países criaram regras sobre o assunto, que variam bastante sobre sua estrutura e punições. 


Leis são necessárias, mas precisam ser amplamente discutidas com a sociedade. Não se deve, para impedir a disseminação das notícias falsas, sufocar a mídia independente, criando mais desinformação e confusão no debate público. As fake news só serão eficazmente combatidas com a consciência das pessoas, que não podem se deixar levar por seus impulsos e ideias anteriores. 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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