Endividamento no horizonte

No setor financeiro, analistas começam a falar que o mercado está anabolizado com muito dinheiro barato

Por: Da Redação  -  25/07/20  -  12:56

No início da pandemia no Brasil, em março, o ministro Paulo Guedes até que resistiu injetar recursos públicos, mas logo seguiu a cartilha praticamente consensual dos governos do mundo todo e liberou muito dinheiro para não deixar o País parar. Crédito abundante, prestações postergadas, redução do compulsório dos bancos e auxílio direto aos informais ou alívio na folha de salários das empresas foram adotados em intensidade nunca antes vista, amenizando os reflexos econômicos da Covid-19.


Agora, aviação, turismo, aviação e setor têxtil, entre outros setores, devem receber capital de fomento para não se asfixiarem durante essa disseminação mais demorada que o esperado do novo coronavírus. Entretanto, esse despejo de verba pública vai ter um custo elevado para os próximos anos, que é o aumento do endividamento estatal acima dos 100% do Produto Interno Bruto (PIB) – por sorte em um momento de juros básicos a caminho do zero, o que vai reduzir a velocidade do crescimento desse bolo. 


Entretanto, os próximos passos do governo serão decisivos para o futuro fiscal do País – erros poderão mergulhar a economia na insolvência ou em sufocamento que anula a capacidade de investir e fazer engrenar a capacidade produtiva ou o consumo. No mundo capitalista a onda é ignorar os debates da presença do Estado na economia e pecar pelo excesso (de dinheiro estatal) para evitar uma depressão profunda. 


O risco do Brasil é repetir o erro dos governos petistas. O então presidente Lula adotou esse mecanismo frente à crise financeira de 2008, seguindo exemplo dos países mais ricos, o que amenizou o impacto na época. Mas, ao notar a popularidade das medidas, como o crédito facilitado da habitação, perpetuou-se o gasto público até o Governo Dilma Rousseff. 


No setor financeiro, analistas começam a falar que o mercado está anabolizado, com muito dinheiro barato que acelera a recuperação dos investimentos mais rápido, após quedas impensáveis entre março e abril. Nos Estados Unidos, há o fenômeno dos jovens que receberam dinheiro extra do Governo Trump para consumir e que preferiram comprar ações. No Brasil, a taxa Selic de 2,25%, derrubada para estimular a economia, empurra cada vez mais conservadores para a bolsa.


O problema é que esse mercado, por ser variável, vai fazer ajustes (cair para valer) se em algum momento se perceber que seus preços estão acima da realidade. 


Entende-se que a pandemia impôs decisões rápidas e de alto risco, mas até agora não há uma análise pormenorizada de como o governo vai trabalhar com um rombo esperado de R$ 800 bilhões, considerando que uma recessão ou estagnação não vai trazer muita receita ao caixa público. É essa condição que sinaliza a volta de um grande endividamento. Frente a isso, não será possível manter um Estado tão caro e com tantos benefícios e isenções. Por isso, é preciso planejar já os passos do governo.


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