Eleições argentinas

Grave situação econômica argentina exigirá medidas imediatas do presidente eleito Alberto Fernández, com sinalização clara sobre os eixos de seu governo

Por: Da Redação  -  29/10/19  -  11:05
Atualizado em 29/10/19 - 11:08

Confirmando os prognósticos, Alberto Fernández venceu, no 1º turno, as eleições presidenciais na Argentina. O resultado traz de volta ao poder o kirchnerismo, alusão ao período em que o país foi governado por Néstor Kirchner (2003-2007), sucedido por sua esposa Cristina (2007-2015), agora vice de Fernández.


O presidente eleito tem passagem por vários partidos e ideologias políticas. Como estudante de direito, participou de pequena agrupação nacionalista de direita, e passou por diferentes governos, tendo ocupado cargos nas administrações de Rául Alfonsín e Carlos Menem, de perfis opostos, e depois foi chefe de campanha de Néstor Kirchner e comandou seu gabinete de ministros, posto que manteve no primeiro ano do mandato de Cristina, com a qual rompeu, vindo a reconciliação apenas neste ano, quando foi formada a chapa vencedora das eleições.


As oscilações de Fernández indicam perfil mais pragmático. A grave situação econômica argentina exigirá dele medidas imediatas, com sinalização clara sobre os eixos de seu governo, assim como o rápido anúncio dos nomes de sua equipe, para conter uma onda de desvalorização do peso em relação ao dólar e evitar corrida aos bancos nos próximos dias. Terá pela frente ainda a difícil renegociação com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a dívida com credores privados.


Não se sabe o poder e a influência que a vice-presidente Cristina Kirchner terá no novo governo, mas a avaliação é que a ala mais à esquerda do peronismo - da qual faz parte Cristina - não deve ter participação ativa. Analistas apontam que pesaram a favor de Fernández muito mais os erros e fracassos do atual presidente Mauricio Macri do que propostas do novo chefe do Executivo eleito. A expectativa é de um governo centrista e moderado, especialmente na relação com o Brasil, embora Fernández tenha feito sinalizações explícitas de apoio à liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fato que desagradou bastante ao governo Jair Bolsonaro.


Os resultados das eleições mostraram um país dividido. Os números finais surpreenderam, contrariando as pesquisas recentes que indicavam vantagem de 20% da chapa vencedora sobre Macri. No final da apuração, a diferença foi bem menor - menos de 8%. Houve a vitória no primeiro turno, mas ficou evidente a polarização na Argentina, que pode ser estendida a todo o continente latino-americano.


No Uruguai, onde ocorreram eleições também no último domingo, o candidato da Frente Ampla, de esquerda, conseguiu 41% dos votos e disputará o segundo turno com Luis Lacalle Pou, de centro-direita, que obteve 30% dos sufrágios. Dois outros candidatos mais à direita, Ernesto Talvi e Guido Manini Ríos, alcançaram, juntos, mais de 20% dos votos, o que torna incerta a manutenção da hegemonia da Frente Ampla no poder uruguaio.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter