Destruição de alimentos em SP

Com o fechamento de bares e restaurantes, que estão entre os principais compradores, os produtores rurais estimam retração de até 80% em suas vendas

Por: Da Redação  -  21/04/20  -  14:20
Atualizado em 21/04/20 - 15:02

A notícia que milhares de produtores rurais do chamado cinturão verde da Região Metropolitana de São Paulo, diante da redução da venda de seus produtos, se viram forçados a destruir toneladas de alimentos causa, no mínimo, indignação. A crise é real: com o fechamento de bares e restaurantes, que estão entre os principais compradores, os produtores rurais estimam retração de até 80% em suas vendas.


Destaque-se a magnitude dos negócios: os 7.000 produtores (considerando o lado Leste, com Mogi das Cruzes, Santa Isabel e Suzano, e o Oeste, com Ibiúna, Itapetininga, Piedade do Sul e Sorocaba) respondem por 25% do abastecimento nacional de verduras, e de suas terras saem 90% das verduras e 40% dos legumes consumidos na capital paulista.


A produção dessa grande horta está literalmente encalhada, com demanda bastante reduzida, e já há agricultores enterrando parte de suas culturas para utilização como adubo, e outros se veem forçados a destruir toneladas de alface, rúcula, agrião e outros tipos de verduras e temperos. Um deles afirmou que cerca de 70% de sua produção foi jogada fora, com prejuízo de R$ 50 mil.


Dados do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes mostram que as vendas de folhas para a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) tiveram redução de 70%, enquanto para os feirantes elas chegaram a cair 60%.


Embora a maioria se sinta constrangida com o descarte sistemático de alimentos, não há forma, ao alcance dos produtores, para que verduras e legumes sejam transportados para os centros consumidores e distribuídos para populações de baixa renda. Os agricultores, diante das atuais dificuldades que enfrentam, não têm como arcar com os custos do transporte.


Pela mesma razão, eles não têm também meios para implementar outras formas de comercialização que poderiam ser tentadas, como a venda direta à população. Alguns pequenos grupos têm tentado alternativas, como produtores do bairro de Quatinga, em Mogi das Cruzes, que se uniu para arrecadar recursos que possam cobrir o transporte de 4 toneladas de alimentos que se dispuseram a doar na semana passada. Mas é iniciativa isolada e muito limitada, que não tem condições de sobreviver ao longo das próximas semanas.


O assunto merece a atenção das autoridades. De um lado, é urgente auxiliar os produtores rurais em dificuldades, com mais crédito, sem burocracia, evitando quebradeira geral.


Mas é fundamental que, com máxima urgência, sejam buscadas formas de compra pública, a preços reduzidos, da produção encalhada, e principalmente a disponibilização de transporte e logística para que alimentos doados não sejam destruídos e possam chegar rapidamente aos que hoje passam fome e enfrentam imensas dificuldades para sobreviver.


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