Desilusão com a democracia

Pesquisa realizada em 42 países aponta que na média global, apenas 30% confiam na mídia, 37% no Legislativo, 39% nos sindicatos e nos partidos políticos

Por: Da Redação  -  14/12/19  -  17:57

Pesquisa realizada em 42 países, com 36.395 entrevistas, mostrou quadro bastante desfavorável à democracia no mundo atual. Promovida por organizações não governamentais - a Fondapol, o Instituto Republicano Internacional e, no Brasil, pela República do Amanhã - revelou pessimismo generalizado em relação ao futuro das instituições democráticas.


A confiança nas instituições, pilar fundamental do sistema, apresenta-se em patamar muito baixo. Na média global, as respostas apontam para o descrédito: apenas 30% confiam na mídia, 37% no Legislativo, 39% nos sindicatos e nos partidos políticos. No Brasil, o quadro é ainda pior, com o mais baixo índice de confiança para o Legislativo (apenas 9%), e registrando números bem inferiores para a mídia (15%), sindicatos e partidos políticos (18%). Sequer o Judiciário passa no teste brasileiro: somente 27% confiam neste Poder, contra 47% na média global.


Segundo o cientista político Dominique Reynié, coordenador da pesquisa, a tendência de desilusão democrática começou entre o final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Não se trata, portanto, de fenômeno recente, mas foi acelerando por vários fatores sobrepostos: a queda do comunismo; a ascensão da China como referência mundial com um modelo autoritário, embora atuando no mercado, em autêntico capitalismo de Estado; o surgimento da internet e posteriormente das redes sociais; o envelhecimento da população, criando tensões especialmente quanto à Previdência Social.


Nota-se claro desencanto e esgotamento do modelo tradicional da democracia representativa, baseado no sistema de partidos e eleições periódicas. É crise histórica, que exige novas abordagens capazes de regenerar a eficácia democrática. Esse é o ponto mais importante: a democracia não consegue dar respostas às pessoas no que elas estão esperando sobre educação, saúde, emprego ou renda.


O grande desafio está em restaurar a capacidade dos Estados democráticos em agir, de modo eficiente, para dar conta dos problemas que afligem o cidadão comum. Há o risco do populismo demagógico, que promete o impossível e se mantém no poder por meio da corrupção e da violência, que pode facilmente descambar para o autoritarismo explícito.


77% dos brasileiros consideram que a democracia funciona mal ou muito mal no País, muito acima da média global (49%). Não surpreende, portanto, que 45% dos pesquisados no Brasil apoiem a ideia de ser governado pelo Exército, e que 73% tenham dito que preferem mais ordem, com menos liberdade. Apesar disso, a avaliação do regime democrático como o melhor possível desponta: 60% concordam com isso, praticamente o mesmo nível da França (61%) e não muito abaixo da média internacional (67%), o que sugere que há margem de ação política para fortalecer a democracia no País.


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