Críticas a Paulo Guedes

Discutem-se abertamente mudanças substantivas na política econômica, com estímulos fiscais para promover maior atividade

Por: Da Redação  -  11/03/20  -  18:52

O ministro da Economia, Paulo Guedes, demonstrou tranquilidade no auge da crise das bolsas de valores em todo o mundo, quando as cotações desabavam. Reiterou que "vamos transformar a crise em reformas, crescimento e geração de empregos", insistindo que o momento de turbulência ajudará a convencer a sociedade sobre a necessidade dos ajustes estruturais na economia brasileira.


O modelo liberal defendido por Guedes começa a ser questionado. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), declarou que as reformas ajudam, mas não são o único ponto para solucionar os danos da crise, enquanto a senadora Simone Tebet (MDB-MS), presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, fez críticas à PEC emergencial que tramita na Casa, dizendo que ela contém excessos que, em vez de aquecer a economia, dar credibilidade ao País e conforto aos investidores, irá travar a economia.


Discutem-se abertamente mudanças substantivas na política econômica, com estímulos fiscais para promover maior atividade. Uma atuação mais forte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), oferecendo linhas emergenciais, combinada com medidas de suporte à liquidez que podem se estender aos bancos públicos (Caixa e Banco do Brasil) são apontadas como necessárias para que o Brasil possa superar as atuais turbulências.


A economista Mônica de Bolle, diretora do programa de estudos latino-americanos da Johns Hopkins University, defende a eliminação do teto de gastos, que limita a expansão das despesas não financeiras da União à inflação do ano anterior. Ela defende investimentos públicos no atual momento, afirmando que as circunstâncias mudaram, e não é mais hora da PEC emergencial. 


A ofensiva sobre Paulo Guedes ganhou força a partir do baixo crescimento do PIB em 2019 (apenas 1,1%), apesar da aprovação da reforma da Previdência. Os investidores estão retraídos, as empresas não têm confiança para retomar a produção, e não se pode atribuir todas as dificuldades ao cenário externo. Mesmo no plano das reformas, há lentidão. Até agora, apesar de reiteradas promessas, não foram ainda enviados ao Congresso os projetos das reformas administrativa e tributária.


Afirmar, com fez o ministro, que o mundo está desacelerando após "décadas de crescimento" e o Brasil está em retomada econômica é exagerado. Sua confiança no que chamou de "4 x 4 com tração nas 4 rodas", referindo-se a juros básicos em 4%, câmbio a R$ 4 por dólar e inflação abaixo de 4%, não assegura o crescimento de 2% neste ano, reiterado por ele se forem aprovadas as reformas estruturais.


Começam a surgir alternativas. Militares, Fiesp e MDB têm planos que fogem à ortodoxia de Guedes, e o presidente Bolsonaro, que nunca foi um liberal econômico, pode ser tentado a novas experiências. 


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