Corte no Censo

Assunto merece ser tratado com cuidado, na medida em que a realização do Censo a cada dez anos no país é fundamental para o planejamento e execução de políticas públicas

Por: Da Redação  -  12/04/19  -  20:16

Diante das dificuldades financeiras por que passa o governo, foi anunciado corte de 25% no Censo Demográfico de 2020, cujo custo está estimado em R$ 3,4 bilhões. O assunto merece ser tratado com muito cuidado, na medida em que a realização do Censo a cada dez anos no país é fundamental para o planejamento e execução de políticas públicas, e para a compreensão da realidade nacional. Os dados obtidos constituem profunda radiografia da situação econômica e social, e são amplamente utilizados pelo setor público e pela iniciativa privada.


Discutem-se formas de reduzir o custo do Censo. Uma delas é a redução do questionário, que permitiria contratar menos recenseadores, uma vez que a aplicação seria mais rápida, permitindo que cada pesquisador ficasse menos tempo na residência dos entrevistados e assim realizar um número maior de visitas. Há, porém, limites a isso: o tempo maior gasto refere-se ao deslocamento dos recenseadores, que, na maioria dos casos, são obrigados a voltar várias vezes no mesmo domicílio para aplicar a pesquisa. Diminui-lo não seria, portanto, a solução. Além disso, descartar perguntas pode significar perda de informações preciosas, bem como impedir comparações com a série histórica, que permite importantes conclusões.


Outra ideia levantada é a redução da remuneração dos recenseadores, que são contratados de modo temporário: o reajuste, em relação ao Censo de 2010, seria feito com base na variação inflacionária e não pela evolução do salário mínimo, o que traria economia (a diferença seria de um reajuste de 104% para algo em torno de 65%). É preciso, entretanto, considerar os valores que serão efetivamente pagos: oferecer remunerações muito baixas e não condizentes com o trabalho a ser realizado pode comprometer a qualidade do Censo.


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo trabalho, afirmou que seu objetivo é realizar um Censo menos custoso, mas que preserve qualidade e não tenha perda de informação. Não será simples, porém, realizar corte tão profundo sem afetar a pesquisa. O Censo de 2020 está previsto para começar em agosto de 2020, e a previsão é que os recenseadores (seriam contratados 240 mil temporários no plano original, sendo 203 mil para o trabalho de campo) deverão visitar mais de 70 milhões de domicílios em 5.570 municípios do país.


Já são adotados dois modelos de questionário: um mais restrito, respondido por todos os domicílios (o universo da pesquisa) e outro mais longo e detalhado, aplicado em parte deles (a amostra da pesquisa), e isso deve ser mantido. A importância estratégica do Censo precisa ser considerada neste momento: cortar, de maneira linear, e principalmente sem critérios, pode significar enormes perdas e retrocessos nas informações sobre o Brasil.


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