Corrupção difusa

Pesquisa desmente que corrupção é uma ideia comumente aceita

Por: Da Redação  -  25/09/19  -  20:45

Costuma-se dizer que a corrupção grassa em todos os níveis da administração pública no Brasil, penalizando o cidadão comum, sujeito a todo tipo de extorsão, seja no pagamento de impostos ou na realização de pequenas obras. A corrupção não seria exclusividade dos grandes negócios, exclusivos das empreiteiras gigantes que, em conluio com políticos e dirigentes de estatais, teriam desviado milhões de reais.


Pesquisa recente, o Barômetro Global da Corrupção - América Latina e Caribe, que é realizada a cada dois anos pela ONG Transparência Internacional, desmente, entretanto, essa ideia comumente aceita. O Brasil, ao contrário do que se imagina, é um dos países em que as pessoas menos pagam propina para ter acesso a serviços públicos na área abrangida pela pesquisa. A corrupção estaria, segundo o levantamento, muito menos difusa no cotidiano das pessoas, aparecendo com mais força nas altas esferas do poder.


O estudo foi feito em 18 países da região, e foram entrevistados 17 mil indivíduos. Uma em cada cinco pessoas teve que pagar propina para ter acesso a serviços públicos, como água, eletricidade ou vaga em escola nos últimos doze meses, equivalente a 56 milhões em toda América Latina e Caribe. O recorde dessa forma de corrupção é na Venezuela, com 50% dos entrevistados afirmando que foram obrigados a ceder ao suborno para conseguir serviços públicos. Seguem-se México, com 34%, Peru, com 30% e Honduras, com 28%.


No Brasil, apenas 11% dos que foram ouvidos entre março e abril confirmaram o pagamento de propina para a obtenção dos serviços, percentual só superior ao da Costa Rica (7%) e Barbados (9%). Bruno Brandão, diretor da Transparência Internacional - Brasil, analisando esses dados, concluiu que o problema grave nacional não está na pequena corrupção, no atendimento público à população, mas no sistema político eleitoral e nos processos de licitação e contratações públicas.


É preciso, entretanto, algum cuidado com esses dados. Em primeiro lugar, a taxa de 11% no Brasil não significa que a percepção sobre a corrupção seja baixa, já que 54% dos entrevistados afirmaram que ela cresceu no último ano e 90% pensam que a corrupção no governo é um grande problema. Deve ainda ser destacado que muitas pessoas se acostumaram com a propina miúda, e talvez nem a associem com suborno para que tenham acesso a serviços públicos. Ela faria parte, portanto, da rotina e dos usos e costumes nacionais, incorporada ao cotidiano da maioria.


Mas é correto dizer que o Brasil tem serviços públicos organizados, embora possam não funcionar do modo necessário e exigido. Todos sabem que vagas em escolas públicas estão ao alcance de todos, e o Sistema Único de Saúde opera em todo o País, garantindo atendimento a qualquer brasileiro, independente de sua renda e condição social.


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