O Governo do Estado de São Paulo anunciou esta semana seu plano de retomada das aulas presenciais, marcadas para 8 de setembro. A data será mantida se todas as regiões do Estado estiverem no mesmo patamar da pandemia, no estágio denominado “amarelo”, em que boa parte dos comércios já terá reaberto.
A notícia levou certo temor não apenas aos profissionais da Educação, como também às famílias dos milhares de alunos das redes privada e pública, do ensino infantil ao superior. Embora a previsão para a primeira etapa da reabertura seja de uma ocupação máxima de 35%, há um leque de fatores que precisam ser considerados, planejados e previstos antes dessa fase.
O primeiro deles é considerar que, caso a intenção seja mesmo voltar com as aulas presenciais ainda este ano, será muito difícil que todas as diferentes regiões do Estado já tenham alcançado a fase amarela até lá. Talvez seja necessário prever protocolos de reabertura diferenciados para regiões distantes que estejam em fases distintas, para evitar a contaminação de pessoas que transitem entre elas.
Se setembro é o mês de escolha, os próximos dois meses devem ser de extensa avaliação sobre as condições de infraestrutura de toda a rede de Educação em São Paulo, especialmente a pública. É sabido que nas cidades mais vulneráveis há unidades de ensino em condição sanitária frágil, onde sequer água tratada é oferecida em abundância. Além disso, ir à escola significa para muitas famílias utilizar o transporte público.
Embora crianças e adolescentes não estejam no grupo de maior risco da covid-19, a reabertura de escolas envolve o trânsito de muitas pessoas, muitas das quais mais vulneráveis aos efeitos nocivos da doença. Não por outros motivos pesquisa feita pelo Datafolha esta semana mostrou o temor das famílias e dos educadores nesse processo de retorno às escolas.
Em entrevista a A Tribuna publicada na edição deste domingo (28), a educadora Maria Helena Guimarães de Castro, membro do Conselho Nacional de Educação, alerta que entre as prioridades dos governos para a Educação deve estar a acolhida a alunos e profissionais da Educação. Muitos tiveram perdas de entes queridos durante a quarentena. Muitos estão fragilizados e com o equilíbrio emocional abalado, temerosos de serem contaminados, vivendo situação econômica debilitada em função de dispensas e encerramento de empresas. Para a especialista, promover esse bem estar e garantir que esse público volte em segurança psicológica é tão importante quanto marcar a data da volta e como será a oferta do conteúdo curricular deste ano.
Os próximos meses têm que ser de intenso planejamento e pesquisa apurada sobre os efeitos da pandemia na pós-quarentena em países que já flexibilizaram na Educação. Esse é um segmento onde não pode haver risco, sob pena de traumatizar ainda mais um público que ainda carece de maturidade e vivência.