A queda do secretário

O secretário da Cultura, foi demitido após publicar um vídeo oficial inspirado em pronunciamento do ministro da Propaganda nazista,

Por: Da Redação  -  19/01/20  -  19:07

Roberto Alvim, secretário da Cultura, foi demitido após publicar um vídeo oficial inspirado em pronunciamento do ministro da Propaganda nazista, Joseph Goebbels, no qual anunciava “virada histórica” das artes no Brasil. Copiando frases do ministro de Adolf Hitler, com cenário semelhante, e com a música do Lohengrin, de Richard Wagner, ao fundo, declarou que “a arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional”.


Foi episódio lamentável, que muitos classificaram de tragicômico pelo despropósito da ação. Não apenas a classe artística repudiou o pronunciamento, como também lideranças políticas, como o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, classificando-o como “ofensa ao povo brasileiro”, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para quem Alvim “passou de todos os limites”.


O embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, falou diretamente com o presidente Jair Bolsonaro para expressar o incômodo da representação israelense com o discurso do secretário de Cultura. Deve ser destacado que as relações do atual governo com Israel são muito fortes: houve visitas recíprocas de Bolsonaro e do primeiro-ministro Benjamin Netayahu em 2019 e o governo brasileiro chegou a anunciar a mudança da embaixada para Jerusalém.


Apesar do presidente Bolsonaro afirmar seu posicionamento à direita no espectro político, ele nunca defendeu o nazismo. Ao contrário, classificou-o como de esquerda e, ao demitir Roberto Alvim, reiterou “nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, como o nazismo e o comunismo”.


Não há dúvida de que a demissão veio em resposta às pressões e teve contornos próprios e peculiares. Em outros episódios, como as acusações de envolvimento do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, em esquema de candidaturas laranjas, ou do secretário da Comunicação Social, Fabio Wajngarten, que teria recebido dinheiro de emissoras de TV e agências de publicidade por meio de empresa da qual é sócio, não houve reações do governo.


Mas é indiscutível que agora a ação foi correta, rápida e necessária. Não são admissíveis atitudes como esta, expondo o governo a críticas internacionais, além de comprometer a imagem do País na área cultural. Destaque-se que, ao longo de sua gestão, Alvim vinha se caracterizando por excessos desnecessários, como foram as críticas grosseiras à atriz Fernanda Montenegro, que fez em setembro.


Até mesmo o escritor conservador Olavo de Carvalho, com forte influência sobre o presidente e seus filhos, manifestou-se contrariamente a Alvim, declarando que ele “talvez não esteja bem da cabeça”. Isolado e criticado, o secretário deixou o cargo. Foi a saída acertada, e agora abre-se a oportunidade de nova abordagem para a cultura no País, sem excessos, acusações e enfrentamentos ideológicos.


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