A situação pela qual o mundo inteiro passa é inédita, e, como tal, é perfeitamente compreensível o grau de dificuldades das pessoas, do Poder Público e do empresariado em tentar manter rotinas e compromissos, até por uma questão de sobrevivência.
Num contexto mais específico, são notórias as agruras que a pequena empresa enfrenta para a obtenção de crédito. Descapitalizadas, e diante do cenário atual, esses empreendedores procuram por financiamento, numa espécie de tábua de salvação para quem deseja seguir na toada empresarial.
Reportagem de A Tribuna, publicada ontem, mostra o quão espinhoso tem sido o caminho para o segmento. As intempéries são enormes, que vão da burocracia à falta de garantias para honrar compromissos. Aqui, estão dois lados de uma mesma moeda, por assim dizer.
Uma pesquisa feita pelo Sebrae, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), revela o tamanho do problema. O levantamento aponta que 86% dos pequenos negócios pediram empréstimos. Desse percentual, somente 14% tiveram sucesso - 58% não conseguiram ou ainda 28% estão sem uma resposta a seus pleitos.
Basta uma observação, mesmo que superficial, pelas ruas e centros comerciais para verificar a extensão dos danos provocados pela pandemia do novo coronavírus. As restrições sanitárias, urgentes e necessárias em termos de saúde pública, afetaram sobremaneira a iniciativa privada. Consequentemente, os assalariados, que sofreram a perda do emprego e a diminuição da renda, esta por conta das medidas excepcionais para manutenção do posto de trabalho.
A pesquisa, por outro lado, tem o condão de traduzir com alto grau de clareza a penúria da pequena empresa, negócio mais fragilizado em termos de recursos próprios. Das entrevistas feitas com 10.384 empreendedores, entre 30 de abril e 5 de maio, 89% disseram que o faturamento mensal despencou de forma absurda: em média, 60%.
Linhas de crédito foram feitas para dar fôlego, seja em termos de investimento ou para assegurar a sobrevivência. Em geral, quem oferece crédito exige garantias. Se o empreendedor não as tem, por falta de planejamento ou nem saber o que pretende exatamente, dificilmente terá a liberação dos recursos. Porém, nem tudo está perdido com os expedientes recentemente lançados: o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), do Sebrae, e o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), do Governo Federal. Neles, estão garantias mais plausíveis ao empreendedor.
São, a rigor, mecanismos que devem funcionar como um respiro neste momento e não a solução completa, como bem observou o gerente regional do Sebrae, Marco Aurélio Rosas. Todos os problemas deixam lições. E este atual não foge à regra. Planejamento, portanto, pode não ser a panaceia para qualquer tipo de crise, mas ajudará e muito na condução e vida longa do negócio.