Mil novecentos e oitenta e cinco foi o Ano Internacional da Juventude (bons tempos), e a Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD) realizou em Moscou, capital da então União Soviética (URSS), o XII Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, com o lema Paz, Amizade e Solidariedade entre os Povos. Por aquela época, este escrevinhador tinha residência e escritório em uma casa com amplo quintal, e duas filhas em idade de mais brincar. Ainda jovem e entusiasmado,tivemos três cachorras exemplares.
A primeira, viralatinha pequena, recebeu o nome Mir, paz em russo. Como a danada não falava russo, não era muito pacífica. A segunda, uma pastora alemã, chamamos Solidariedad entre los Pueblos. Acontece que cachorro só atende com nome pequeno, então o apelido ficou Sol. De qualquer forma, era muito solidária, acompanhava os acontecimentos com as crianças e queria sempre ajudar e socorrer.
A terceira se chamava Amizade, para completar o lema da Juventude mundial. E, realmente, ela representava a amizade. Era grande, a maior de todas, cinza e capa preta, mas, para honrar o nome, quando algum amigo chegava, ela ia cercando, até o momento que fosse possível, e pulava (sem encostar as patas, para não sujar a visita) dando-lhe uma bela lambida no rosto.
Na época, os campos democráticos cresciam, e se afastava a possibilidade de uma nova guerra mundial, atômica. Da mesma forma que o fim da Segunda Guerra suscitou o Estado do Bem-Estar Social, o então muito próximo encerramento da Guerra Fria nos fazia acreditar na Paz Mundial. Acontece que, muito provavelmente, tempos bons não voltam mais.
Podemos procurar e fazer algo parecido, com o correto estudo e uso das tecnologias deste novo século. O primeiro quarto dele, com a pandemia, a fome e graves guerras, como na Ucrânia e no Oriente Médio, alcançando o vergonhoso massacre palestino, não rendeu muitas coisas boas; e a resposta exige ciência e democracia.
Quem acreditou que, após as guerras mundiais e as derrotas das ditaduras na América Latina, a Paz, a Amizade e a Solidariedade entre os Povos seriam os determinantes nas relações mundiais, infelizmente estava muito enganado.
O ano que se inicia, 2024, ainda será de combate ao renascido fascismo. E não se enganem com lorotas como ‘anarcocapitalismo’ ou qualquer vantagem no ‘ultraneoliberalismo’. São fascistas que almejam a destruição do estado que conhecemos para a implantação de um poder autoritário. Por isso, se pintam, nas questões comportamentais, como conservadores ou não,de acordo com a plateia. Utilizam-se especialmente de religiões, apostando na grande mentira que se denomina ‘meritocracia’.
Sem condições de dignidade, saúde, educação, moradia e tudo o mais,não existem méritos. Conforme afirmei muitas vezes, o fascismo se utiliza de três pregações na seguinte ordem: fomentam a ignorância, como se conhecimento demais causasse graves problemas, tensões e revoltas; depois, apostam no medo, especialmente o temor daquilo que não conhecemos; e, por fim, geram o ódio, ódio mortal contra o que causa medo.
Daí para a valentia dos covardes, tipo quinze batem em um, ou quem tem revólver manda, é um passo rápido, culminando, por exemplo, com as arruaças golpistas de 8 de janeiro passado. Os que desejam a democracia, seja conservadora ou progressista, têm a obrigação de combater as propostas autoritárias, e, para tanto, será preciso reduzir drasticamente a fome, a miséria e a desigualdade social. Que 2024 seja dedicado à construção e defesa da democracia.