2024: um ano decisivo para os portos brasileiros

Marcelo Neri é presidente da Federação Nacional das Agências de Navegação Marítima (Fenamar)

Por: Marcelo Neri  -  06/01/24  -  06:26
  Foto: Unsplash

À medida que adentramos 2024, os portos brasileiros passam a enfrentar uma época de transformações fundamentais. Este ano pode ser um marco histórico para muitos progressos ou estagnações, estabelecendo um novo paradigma de inovação e crescimento sustentável que pode influenciar o cenário portuário global.


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Os terminais portuários brasileiros têm experimentado uma evolução notável nos últimos anos, com modernizações significativas e aumento da capacidade operacional, principalmente para o Arco Norte, cujo incremento na produção agrícola demandou uma maior geração de ativos portuários. Devemos também lembrar das melhorias de produtividade e expansão dos terminais de contêineres.


Entretanto, embora os desafios não se limitem mais apenas à infraestrutura portuária, quando comparamos nossa realidade com base em um benchmark dos portos mais evoluídos no mundo, percebemos que há ainda muito que progredir, principalmente nas questões de automação, tecnologia e os gargalos enfrentados com os elementos que circundam os portos.


Um dos principais problemas reside nos acessos viários. As estradas e as vias de transporte que conduzem aos portos muitas vezes são inadequadas ou insuficientes para lidar com o volume de tráfego necessário para uma logística eficiente. Isso resulta em congestionamentos e atrasos, comprometendo a cadeia logística como um todo.


Além disso, há uma necessidade urgente de equilibrar a matriz logística dos diversos modais de transporte no Brasil. O país historicamente dependeu muito do transporte rodoviário, que, embora flexível, tem limitações em termos de capacidade e sustentabilidade. A integração eficaz de modais como o ferroviário e o hidroviário é fundamental para otimizar o transporte de cargas, reduzir custos e impactos ambientais, garantindo um fluxo contínuo e eficiente até os portos.


A modernização e a expansão dos portos são passos importantes, mas para uma transformação logística completa no Brasil, é vital que essas melhorias sejam acompanhadas de avanços nos sistemas de transporte que conectam os portos ao interior do País. Isso inclui não apenas melhorias físicas nas estradas e ferrovias, mas também políticas e investimentos que fomentem uma matriz logística mais diversificada e eficiente.


Outros aspectos muito importantes em termos de evolução no sistema portuário começam com a digitalização, que continua sendo um pilar central para o futuro dos portos. A adoção de tecnologias como inteligência artificial e blockchain pode transformar as operações portuárias, melhorando a eficiência, a segurança e a transparência.


Além disso, a sustentabilidade ambiental permanece em primeiro plano. Para os portos, no mundo de hoje, a adoção de práticas sustentáveis é premente. Adotar energias renováveis e políticas de zero emissão são regras que começam a se tornar uma exigência da cadeia global. Essas iniciativas não só são cruciais para o meio ambiente, mas também reforçam a imagem dos portos brasileiros no cenário internacional.


A relação entre os portos e as cidades também é um ponto de atenção. Projetos que integram o porto à cidade, melhorando a infraestrutura urbana, o turismo e reduzindo impactos ambientais, são essenciais para o bem-estar da comunidade.


Os portos não devem olhar somente para si mesmos, mas precisar ter um olhar sistêmico, com uma gestão holística com todos que o circundam. Para isto, novas tecnologias são muito importantes, bem como o equilíbrio entre automação e emprego é outro desafio.


A transição para operações automatizadas deve ser acompanhada de políticas sociais responsáveis, garantindo que os trabalhadores sejam adequadamente treinados e integrados neste novo cenário. Não adianta nada termos um alto nível de automação e novos projetos de tecnologia, se não atentarmos ao ativo de maior importância, que são as pessoas que vão operacionalizar essas inovações.


Em 2024, o desejo é que os portos brasileiros não somente passem a se adaptar com as melhores práticas dos principais portos do globo, mas também abracem inovações, políticas sustentáveis e responsabilidade social. Os portos já têm dado um bom exemplo para o resto da cadeia da logística brasileira. Mas ainda almejamos que continuem buscando as melhorias necessárias, se posicionando como um modelo de excelência para todo o mundo.


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