Dicas de português: Trem da alegria

“Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo." (Fernando Pessoa)

Por: Dad Squarisi  -  26/03/23  -  06:53
A visita ao nosso maior parceiro comercial prometia negócios da China. Significaria negócios altamente rentáveis
A visita ao nosso maior parceiro comercial prometia negócios da China. Significaria negócios altamente rentáveis   Foto: Max

O presidente Lula iria à China. Com ele, alegre comitiva de quase 250 pessoas. Senadores, deputados, ministros, governadores, empresários, sindicalistas, assessores, jornalistas embarcariam no trem da alegria. Temia-se que a multidão atrapalhasse os negócios sonhados pelo País.


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Negócios da China

A visita ao nosso maior parceiro comercial prometia negócios da China. Significaria negócios altamente rentáveis. A expressão nasceu no século 13. Marco Polo viajou ao Oriente e contou histórias de uma terra exótica, com pessoas e cenários mirabolantes que despertaram a ambição de comerciantes.


Destaque

A China sobressai nos noticiários de Europa, França e Bahia. A razão: trata-se da segunda potência do planeta, que caminha a passos largos para chegar ao topo. Por isso, continuará nas manchetes. Convém, pois, conhecer manhas de tão especial criatura. No adjetivo composto, em vez de chinês, o erudito sino pede passagem. Na flexão, só o segundo muda: relação sino-brasileira, relações sino-brasileiras, tratado sino-brasileiro, tratados sino-brasileiros, guerra sino-americana, guerras sino-americanas, empresa sino-europeia, empresas sino-europeias.


Bebida local

Em português é chá. Em inglês, tea. Em espanhol, te. Em italiano, tè. Em francês, thé. Em alemão, tee. Por que a diferença? A palavra veio da China. Ambas as formas nasceram do mesmo ideograma. É que o danado tem pronúncias diferentes. No dialeto mandarino, é ch’a. No fun-kien, tê. Nós ficamos com o primeiro.


A diferença

Chá é a bebida. Xá, título do soberano da Pérsia (Irã). A origem vem do jogo de xadrez – xeque-mate. A duplinha vem do persa xâh, que significa rei, e mât, que quer dizer morto. Antes de chegar aqui, o casal passou pelo árabe. O xah deu no português xá e xeque. No inglês, virou sheik. Assim, na nossa língua de todos os dias, o chefe muçulmano é xeque, não sheik.


Brics

A ex-presidente Dilma Rousseff comporia a feliz comitiva. Em Xangai, vai assumir a presidência do banco do Brics, formado por cinco países. Eles, com o nosso, abrigam 42% da população do planeta. O quinteto é tão importante que se tornou a sigla Brics. O nome se formou com as iniciais dos membros: B de Brasil, R de Rússia, I de Índia, C de China e S de África do Sul (em inglês, South Africa). Desde que se formou, o grupo ocupa páginas nos jornais e minutos na TV. Mas uma vacilação marcou o noticiário. Singular ou plural? Alguns ficaram com o Brics. Outros, os Brics. O pomo da discórdia foi o s de Brics. Ele não marca o plural. É a inicial de South Africa. Conclusão: Brics joga no time de Mercosul. É singular: O Brics se reuniu em Xangai. O banco do Brics promete fazer investimentos nos países-membros.


Mundo árabe

Depois da China, Lula visitaria o Oriente Médio. Pousaria na capital dos Emirados Árabes, Abu Dabi. Pintou, então, a questão: como se chama quem nasce naquele país árabe criado em 1971? É emiradense.


Leitor pergunta

Nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, alguém escreveu na estátua da Justiça, que fica em frente ao Supremo Tribunal Federal, a frase “Perdeu Mané”. O ministro Barroso disse que tinha pena, porque a pessoa que pichou a deusa Têmis não sabe português. Onde ela errou? (Sílvia Castro, São Paulo) Na frase, a pessoa se dirige a Mané. O ser a quem nos dirigimos é serzinho elitista. Não se mistura a nenhum termo da oração. É sempre — sempre mesmo — separado por vírgula. Na dúvida, basta antepor-lhe o ó: Pra frente, (ó) Brasil. Entra, (ó) Maria. Deus, ó Deus, onde estás que não me escutas? Perdeu, (ó) Mané.


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