Até tu, Cebolinha?

Em tuíte, ministro da Educação usou a imagem do personagem da "Turma da Mônica" na Muralha da China e ironizou o modo como os chineses falam português

Por: Dad Squarisi  -  08/04/20  -  11:31

Recado


“A gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda.”
Luis Fernando Verissimo


A novela começou com Eduardo Bolsonaro. O filho do presidente responsabilizou a China pela pandemia do coronavírus. Pequim protestou. Exigiu pedido de desculpas. Não veio. O ministro da Educação jogou gasolina na fogueira.


Em tuíte, usou a imagem do Cebolinha na Muralha da China. Ao falar, o personagem da Turma da Mônica substituiu o "R" pelo "L", ironizando o modo como os chineses falam português. "Quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial?", escreveu Weintraub.


Xenofobia


"É xenofobia", disse o embaixador da segunda potência planetária. O que é isso? Xenófobo vem da terra de Sócrates, Platão e Aristóteles. A intolerante tem duas partes. Uma: xénos. Quer dizer estrangeiro. A outra: phobein. Significa ódio ou medo. Juntando as duas pontas, trata-se de ódio ao estrangeiro.


Medãoooooooooo


Phobein (medo) entra em outras composições. É o caso de hidrofobia. Animais atacados de raiva têm pavor da água. São hidrófobos. Pessoas que sentem pânico em lugar fechado são claustrofóbicas. Os bobões que se consideram superiores aos homossexuais são homofóbicos. Em bom português: são preconceituosos.


Piedade, Senhor


Preconceito pertence à família de conceito. Nele aparece o prefixo pre. As três letrinhas querem dizer antes de. Pré-escola, por exemplo, é o período que antecede a escola. Prefixo, o elemento que se coloca antes do radical. Preconceito, juízo concebido ou gerado precipitadamente — antes do conhecimento de fatos que podem contestá-lo.


Preconceituosas são tristes criaturas que têm ideias formadas. Para elas, muçulmano é terrorista. Mulher, pessoa de segunda classe. Pobreza, sinônimo de violência. Vamos combinar? O preconceituoso vive num mundinho estreito que só. Sem preconceitos: é ignorante digno de pena.


Bolsonaro x Mandetta


Uns dizem que é inveja. Outros, que é incapacidade de entender. O certo é que o presidente e o ministro da Saúde estão se bicando. Mandetta disse que não pede demissão porque médico não abandona paciente. Bolsonaro diz que tem a caneta na mão. Com ela, pode conjugar o verbo demitir.


A ameaça de Bolsonaro tem nome pra lá de chique. É demissível ad nutum. A latina atinge os ocupantes de cargo de confiança, que podem ser demitidos a qualquer momento. As duas palavrinhas vêm do latim. Ad quer dizer conforme, segundo, de acordo com. Nutum, sinal ou aceno de cabeça. Traduzindo: a um movimento de cabeça do poderoso, rua!


Puxa-saquismo


A insegurança do funcionário não estável foi fértil. Dela nasceu o decálogo do puxa-saquismo. Primeiro mandamento: o chefe tem sempre razão. Mandetta nem quer saber.


Leitor pergunta


Com as bicadas de Mandetta e Bolsonaro, duas palavras ganharam destaque. Uma: ególatra. A outra: ego-histeria. Como lidar com as três letrinhas pra lá de atuais?
Antônio Augusto, Santos


É fácil como tirar chupeta de bebê. Ego- pede hífen quando seguido de h ou o. No mais, é tudo juntinho como unha e carne: ego-histeria, ego-organização, egocêntrico, egolatria, egoidealizado.


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