Promessas (atrasadas) para o ano novo

Quando foi o momento propício me distraí com o movimento da casa, deu uma preguiça de pensar

Por: Cassio Zanatta  -  04/01/24  -  06:26
  Foto: Pixabay

Sei que essas promessas costumam ser feitas nos últimos dias do ano, ou mesmo a poucas horas da virada. Quando tendemos a ficar sentimentais, exagerar na cangibrina ou meditar olhando o horizonte, sérios e solenes. Mas, quando foi o momento propício, me distraí com o movimento da casa, deu uma preguiça de pensar e levou quem trouxe. Assim, resolvo fazer minhas promessas de fim de ano com um certo atraso, no quarto dia de janeiro.


Clique aqui para seguir agora o novo canal de A Tribuna no WhatsApp!


Há uma vantagem nisso: as promessas costumam ser menos exageradas e hiperbólicas. Alguns dias do novo ano bastam para evidenciar as impossibilidades e baixar a nossa bola. Enfim, vamos a elas (pigarro imaginário):


Prometo ser um exemplo para as novas gerações. De quê, exatamente, ainda estou pensando. De organização? persistência? equilíbrio? sobriedade? Posso ouvir as risadas das pessoas próximas. OK: prometo não ser um exemplo para as novas gerações.


Vou cuidar mais da saúde: persistir nas caminhadas, voltar à hidroterapia, fazer um check-up anual (vai, lá pra novembro), obedecer aos horários dos remédios, tirar sestas esplêndidas. Também espero beber mais vinho (uvas têm função anti-oxidante), caipirinha (riquíssima em vitamina C) e comer mais torresmo e tremoço (excelentes para o trato intestinal).


Juro solenemente não escalar o Aconcágua, quando estiver nos Andes, ou o Everest, estando no Himalaia. Não enfrentar onça, aranha, autoridade, gato e mulher acuados. Deixar para os mais moços as ilusões com política, as festas intermináveis e a cobrança do pênalti decisivo.


Prometo não me aborrecer muito nem me estressar tanto. Seguir as ordens médicas: fugir das pressões, das discussões, evitar as divididas. Percebam que isso depende mais de vocês que de mim. Portanto, façam sua parte para que o item seja cumprido com dignidade: não me azucrinem ou me decepcionem.


Pretendo emagrecer uns bons quilos – promessa não cumprida desde que me entendo por gente, mas tradição é tradição, paciência, vamos mantê-la.


Prometo dizer umas verdades. Mas muito mais mentiras.


Ouvir mais Satie. Se isso me deixar meio melancólico, trocar por Mozart. Se ficar alegrinho demais, Glass. Se muito triste, Mahler. Se otimista em excesso, Brahms ou Schubert. Se me deixar horas olhando pela janela, recorrer a Pixinguinha, Jobim, João, Chico, Caetano e encarar esta vida.


Prometo tomar mais sol, entrar vezes mais no mar, ir com mais constância ao cinema e a São José (minhas tias já estão pensando em me desnaturar) e desmarcar mais compromissos a que não quero ir, inventando as desculpas mais bestas. Tudo farei para não decepcionar os que me acham um caso perdido.


Acho que está bom. Melhor não exagerar nas promessas, pra que tanto peso nas costas já de saída? Honrar uma delas é trabalhoso o suficiente. Além do quê, tempo voa e daqui a alguns meses já é hora de outra lista e novos juramentos. Ô vida que vai empurrando a gente.


Aos leitores, desejo muitas promessas realizadas. Que as alegrias sejam grandes e as tristezas, leves – assim mesmo, só as inevitáveis. Feliz 2024 (ainda está em tempo de dizer?).


Tudo sobre:
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter