A medida da tristeza

Se a gente for pesar, dá uns 15 gramas, a tristeza

Por: Cassio Zanatta  -  14/03/24  -  06:30
  Foto: Unsplash

Se a gente for pesar, dá uns 15 gramas, a tristeza. Talvez menos: ela no prato da balança é um grãozinho de sentimento, uma emoção com carga de nuvem. No entanto, o vento mais forte não a leva embora, a avalanche nem cosquinha faz, o sopro do Super-Homem não a move um centímetro, a chuva tenta fazê-la escorrer pelo ralo, e ela se agarra aos cantos, luta feito carrapato na alma da gente. A tristeza se faz de leve, imita pluma, mas só os nossos ombros sabem a verdade.


Para medir a tristeza, basta uma trena curtinha, um metro dá e sobra. Se ela não está em quem a mede, menos que isso. Mas para o dono da tristeza, a distância entre o começo e o fim é dessas de aferir a distância entre os planetas: atravessa 70 rios, 50 pastos, 11 mata-burros e não dá conta. A lonjura vai se esticando, o fim da jornada recomeça a cada quilômetro.


A tristeza parece discreta, como a marca de pênalti no meio da área no gramado da Vila, mas pesa como a bola colocada ali.


Seu som não se mede em decibéis, mas no trincar dos dentes. O soluço prefere o silêncio; o espalhafato foge e vai se trancar no quarto.


E a altura da tristeza? Feito aquelas marcas no batente da porta feitas a lápis, que medem a altura do filho a cada três anos, ela vai ficar para sempre. Pode até sossegar num novo amor, num nascimento na família, mas estará sempre ali, lembrança teimosa, acenando discretamente.


A tristeza é fria, bem mais do que afirma o termômetro. Tem um parentesco qualquer com as geadas e a umidade das cavernas. Se, na tentativa de se livrar, você vai a Palmas do Tocantins em pleno janeiro, é bom levar um casaquinho. Ou não será frio o que se sente, os arrepios é que nos confundem.


Mede-se sua capacidade por litros. No caso da tristeza, isso é de uma evidência perturbadora, os lenços e travesseiros que o digam. Mede-se a qualidade de seu aço pelo tanto que ela perdura. Para fazê-la sumir, a quantidade de alegria necessária é imensamente maior do que a gente imaginava.


Na multidão, é sozinha. Na dança, é estaca. No riso, é uma fingida. No Carnaval, já é Quaresma. No samba, a tristeza é senhora (Caetano sabe tudo).


Tudo sobre:
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter