Os próximos passos após a extinção da Dersa

Extinção da estatal responsável pelas travessias litorâneas foi aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo

Por: Caio França  -  18/09/19  -  11:26
Ainda não se sabe o que o Governo de São Paulo fará com as balsas que operam nas travessias
Ainda não se sabe o que o Governo de São Paulo fará com as balsas que operam nas travessias   Foto: Silvio Luiz/Arquivo/AT

Há uma semana, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo aprovou por 64 votos a 15 a extinção da Dersa. Um dos votos favoráveis à desestatização proposta pelo Governo do Estado de São Paulo foi meu. Tenho reforçado desde o início do segundo mandato, quando recebi o Projeto de Lei n° 01/2019, que sou favorável ao enxugamento da máquina pública, desde que o processo esteja de acordo com o interesse público.


Depois de muitas análises dos balancetes apresentados, constatamos que a empresa de economia mista encontrava-se numa situação financeira difícil, com um déficit de R$ 400 milhões. Além do envolvimento do nome da Dersa em escândalos de corrupção, outra situação extremamente desgastante na nossa região, que dificultava qualquer tipo de movimento em defesa da manutenção da empresa, foi a ineficiência histórica de gestão do sistema de travessia de balsas.


Em respeito aos cerca de 500 funcionários e profissionais (incluindo servidores de carreira que poderão ser incorporados ao Governo do Estado ou aderir ao PDV - Programa de Demissão Voluntária), pessoas de bem que dedicaram a vida a esta empresa, e não aquelas que se utilizaram dela pra crescer na vida, faço um breve resumo das principais obras e serviços prestados ao desenvolvimento rodoviário do estado, registro esse deixado por um internauta em um dos meus artigos publicados em A Tribuna On-line.


A retrospectiva deixada pelo Claudio Dias remonta ao início das atividades da Dersa no gerenciamento da construção da mais moderna rodovia brasileira – a Rodovia dos Imigrantes, cuja obra, de alta complexidade técnica, atravessou a Serra do Mar com um baixo impacto ambiental. Ainda segundo Claudio, a obra foi concluída em quatro anos, inaugurada em 1976, desafogando o escoamento de cargas provenientes do movimentado Porto de Santos, que só contava com a já saturada Via Anchieta, melhorando as condições de viagem do grande número de turistas que se deslocavam nos fins de semana e feriados ao litoral, o que ocorre até hoje.


Concluída essa obra de grande magnitude, Claudio relembra que o DER - Departamento de Estradas e Rodagem entregou a administração da Via Anchieta para a Dersa, que ficou encarregada da sua reforma e modernização, vindo a compor o conhecido Sistema Anchieta-Imigrantes.


Outra iniciativa pioneira da Dersa diz respeito à implantação do Sistema de Ajuda ao Usuário (SAU), no Sistema Anchieta-Imigrantes, com telefones de emergência a cada quilômetro, prestação de socorro mecânico e atendimento médico pré-hospitalar aos usuários, sistema esse que serviu de base aos atuais contratos de concessão rodoviária em vigor no Brasil.


Claudio também guarda na memória a construção, em tempo recorde de dois anos, da segunda rodovia de alto padrão técnico do Estado de São Paulo – a Rodovia dos Bandeirantes, para suprir a demanda da Via Anhanguera, de concepção ultrapassada para os tempos atuais, e que já se apresentava saturada, principalmente entre a Capital e a cidade de Campinas, em franco desenvolvimento.


Concluída a obra da Rodovia dos Bandeirantes, ligando São Paulo à região de Campinas, Claudio detalha, ainda, que o DER também passou a administração da Via Anhanguera para a Dersa, que procedeu à sua reforma e modernização, para formar o Sistema Anhanguera-Bandeirantes, cuja operação também ficou sob o comando da Dersa até a sua concessão à iniciativa privada, em 1998, mesmo ano da concessão do Sistema Anchieta-Imigrantes.


Em 1982, destaque para a construção da Ponte do Mar Pequeno, que solucionou definitivamente o problema de ligação entre São Vicente e Praia Grande, que durante 30 anos foi feita pela estreita Ponte Pênsil, e permitia a passagem de apenas um veículo de cada vez.


Estes são apenas alguns exemplos de uma relação de empreendimentos realizados pela Dersa, que contribuíram para o progresso do Estado de São Paulo, bem como de suas regiões metropolitanas. No ano do seu cinquentenário, a empresa encerra a sua jornada, mas não a sua história, sacramentada em cada rodovia, ponte e soluções viárias que nos permitem diariamente acessar o nosso destino e expandir os horizontes, seja a caminho dos estudos, do trabalho ou simplesmente a passeio.


As dúvidas que pairam no ar, agora, dizem respeito aos próximos passos que o Governo do Estado de São Paulo reserva para a solução específica do problema da travessia de balsas que nos aflige, em especial com a aproximação da temporada de verão e de férias escolares, ocasião em que o fluxo de turistas triplica na Baixada Santista.


A informação é de que a Secretaria Estadual de Logística e Transportes assume o gerenciamento até a privatização da empresa. No entanto, não há detalhes quanto ao sistema de modernização das travessias e de que forma será realizada esta concessão. Portanto, protocolamos requerimentos de informação questionando a manutenção e aquisição de novas balsas e sobre a contratação de mão de obra especializada, e ainda solicitando o detalhamento das iniciativas envolvendo a concessão do serviço, bem como de ações de curto prazo visando o bom funcionamento da travessia nos próximos meses.


A ausência de respostas mais claras deixa a impressão de que as ações estão sendo realizadas na ordem inversa. Então, primeiro, a empresa é extinta, para depois refletir sobre o que será feito com os serviços prestados por ela. Uma lógica, no mínimo, perigosa, que expõe fragilidades, não valoriza o planejamento e frustra a expectativa dos usuários por uma melhoria significativa nas travessias. Estamos atentos e otimistas de que as soluções possam aparecer em curto prazo.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter