Sexta-feira passada (29), o governo estadual surpreendeu com o anúncio da Associação Amigos do Projeto Guri, que se viu obrigada a colocar os seus professores em aviso prévio, diante do iminente fechamento de parte dos polos de atuação no interior e litoral. A justificativa apresentada foi o corte no orçamento da Secretaria da Cultura, assim com em outras pastas.
Após forte mobilização e pressão de muita gente, inclusive dos guris diretamente beneficiados, com abaixo-assinado virtual de quase 200 mil assinaturas, o governo resolveu rever a sua posição.
Em todo o estado, 400 polos contemplam mais de 60 mil alunos. Entre a Baixada Santista e Vale do Ribeira, são 12 polos e 3.300 jovens atendidos pelo Guri.
Um bom gestor precisa reconhecer os seus erros e voltar atrás quando for necessário.
É inadmissível que um governo eleito sob o mantra da ‘nova política’ e da ‘inovação’ utilize de técnicas ultrapassadas de contingenciamento de verbas públicas sem nenhum critério.
Direcionado a crianças e adolescentes entre seis e 18 anos, o Guri oferece cursos de iniciação musical, canto coral, tecnologia em música, instrumentos de cordas, sopros, teclados e percussão, no período do contraturno escolar.
É uma iniciativa de inclusão social pela arte, cultura e educação. Desde 1995, já atendeu 770 mil jovens na Grande São Paulo, interior e litoral. Ao longo desses 24 anos, revelou grandes talentos, com projeção nacional e internacional, muitos dos quais fizeram da música a sua profissão, aprendizes que viraram mestres e fizeram dessa paixão o seu meio de subsistência.
Diante de uma história bem-sucedida, de desenvolvimento de potencialidades e habilidades, formação de caráter, elevação de autoestima, lapidação de verdadeiros diamantes, construção de carreiras e, acima de tudo, de vidas e de dignidade, não podemos aceitar o corte pelo corte. A nossa mobilização foi legítima e determinante para que o Governo voltasse atrás da decisão. Aproveito para agradecer a todos que ajudaram a compartilhar o #FicaGuri nas mídias sociais.
Num momento em que se discute tanto a ampliação da carga horária, a qualidade e a permanência das crianças na escola, seria no mínimo controversa, para não dizer um retrocesso, a redução dos polos do Projeto Guri. Seria o estado dizendo não para si mesmo, já que o Guri atua no período de ociosidade dos estudantes, momento em que eles saem das escolas e ficam expostos e suscetíveis a todos os malefícios da sociedade.
Vamos acompanhar de perto para garantir que o anúncio feito pelo governador João Doria não fique apenas nas palavras. Logo de cara, é preciso descontingenciar os recursos para o Projeto Guri e cancelar o aviso prévio enviado a diversos professores.
Sabemos que o início de todo governo é marcado por muita ansiedade, levantamento e desencontro de informações, necessidade de rever o que foi feito, e até mesmo mudança de nome de projetos já existentes. No entanto, como gestores públicos, temos que nos pautar pelos interesses da coletividade, com muito critério e discernimento.
Não estamos aqui falando apenas de números, tampouco de vagas reduzidas e de professores dispensados. Estamos falando de gente, de sonhos e intérpretes de sonhos, como diria o nosso grande educador Rubem Alves.