Estamos completando quase 60 dias do aparecimento de manchas de petróleo nas praias paradisíacas do nosso Nordeste brasileiro, destino de milhares de turistas domésticos e estrangeiros o ano inteiro, até agora sem nenhuma responsabilização por tamanha tragédia ambiental. Em um último balanço, o óleo já alcançou 200 localidades em nove estados da região, incluindo dez unidades de conservação e o segundo maior coral do mundo, que fica na Praia de Carneiros, em Pernambuco.
Os prejuízos à biodiversidade e ao ecossistema são incalculáveis e devem se estender por décadas. As imagens do “piche” em meio às águas cristalinas são estarrecedoras. A substância altamente tóxica coloca a vida marinha em risco. Tartarugas e peixes têm sido encontrados mortos ou mergulhados em petróleo, entre outras espécies que surgem à beira mar. As aves também entram na lista dos animais diretamente ameaçados. Isso tudo sem calcular os estragos ocultos, que nunca chegarão ao nosso conhecimento.
A saúde humana também pode ser afetada, seja por meio da ingestão de alimentos contaminados ou do próprio contato de banhistas com os resíduos. Riscos estes aos quais inúmeros voluntários, comerciantes e organizações não-governamentais têm se submetido após a chegada do óleo à orla marítima.
Diante de um cenário desolador, comunidades locais arregaçam as mangas e, de maneira heroica, trabalham dia e noite para a limpeza das praias. Esta talvez seja a imagem mais comovente que carregaremos desse desastre. Segundo a Marinha do Brasil, mais de 900 toneladas de óleo já foram recolhidas.
Ainda que visualmente os impactos possam ser minimizados com a mobilização, que inclui esforços do Ibama, ICMBio, governos estaduais e municipais, não podemos esquecer daquilo que ficará submerso, no fundo do mar, entranhado nos corais e arrecifes.
As perguntas são inúmeras: Como se deu esse vazamento? O que será da vida das pessoas que vivem da pesca como meio de subsistência e fonte de geração de renda? Como ficarão os pacotes turísticos comercializados para estas praias nesta temporada de verão que se aproxima? Como será feito o monitoramento desse desastre ao longo do tempo? Quem vai pagar por todos esses danos? Os brasileiros anseiam por respostas, de Norte a Sul.
Como presidente da Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, estou acompanhando os desdobramentos das investigações para descobrir a origem do vazamento e exigindo agilidade na apuração desse crime ambiental sem precedentes na história do Brasil.