Nem mocinho, nem bandido

O TSE anunciou um pacote de medidas para punir os políticos que utilizarem a IA de forma a prejudicar os opositores

Por: Arminda Augusto  -  06/03/24  -  06:34
  Foto: FreePik

Nos desenhos animados de antigamente, em que uma parte dos personagens pendia suas ações para prejudicar os outros e quase sempre saía perdendo, o enredo terminava com a máxima de que “essas pessoas do mal têm muitas virtudes, pena que só saibam usá-las para fazer o mal”. Lembrei dessa frase porque muito se fala sobre os efeitos maléficos da inteligência artificial (IA), que manipula fotos e vídeos e cria narrativas que em nada correspondem à realidade. É verdade e, mais que isso, engana as pessoas de tal forma que mentiras acabam se tornando verdades tamanha é a velocidade com que se propagam.


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Na semana passada, o próprio Tribunal Superior Eleitoral anunciou um pacote de medidas para punir os políticos que utilizarem a IA de forma a prejudicar os opositores na campanha para o pleito municipal. O TSE está certo. Mas a IA não pode ser vista apenas como ‘bandida’: tem IA muito bem usada na Medicina, na investigação de casos de polícia, na arquitetura, na engenharia e até na arqueologia - quem viu aquela reportagem em que alunos da Universidade de São Paulo estão usando inteligência artificial para identificar papiros carbonizados do vulcão Vesúvio no ano 79 antes de Cristo?


A relevância da educação midiática entra justamente nessa bifurcação, em que de um lado está o bem e, de outro, o mal que a escalada da tecnologia e das mídias digitais pode causar em quem são souber identificar os sinais. A boa notícia é que projetos interessantes e assertivos se espalham pelo Brasil, como o Imprensa Jovem, da Prefeitura de São Paulo, e o Memórias em Rede, do Instituto Devir, de Santos. Neles, jovens muito jovens mergulham no universo da produção de conteúdo e, ao fazerem isso, aprendem não só a captar informação, fotos e vídeos, mas também como funcionam os mecanismos de manipulação. Os especialistas são unânimes: aprender a questionar é o segredo, porque quando se questiona um dado, uma informação, um post ou um simples link de TikTok que recebemos nos grupos de WhatsApp um leque de inquietações se abre. Antes de acreditar e compartilhar, há um check list a ser preenchido e é ele que vai nos dar a garantia de se tratar de conteúdo seguro.


A educação midiática não é só para crianças e adolescentes, mas para todos os cidadãos, e mais ainda para os que nasceram em uma geração analógica, que ainda pena para manusear botões virtuais. A outra boa notícia é que já há um leque de literatura, sites e materiais que nos ajudam a lidar com esse universo do bem e do mal. O Instituto Palavra Aberta, por exemplo, tem um arsenal de materiais úteis para professores, escolas, crianças e adultos. O Programa Imprensa Jovem, de São Paulo, também pode ser replicado em escolas de todo o País. Esse é o caminho. E se o uso da tecnologia e da IA é um caminho sem volta, a educação midiática continuada também.


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