Viajantes podem ter de apresentar imunização

Exigência de vacinação contra a covid-19 no futuro está sendo debatida pelo mundo

Por: Do Estadão Conteúdo  -  21/03/21  -  21:12

A exigência de vacinação contra a covid-19 vem sendo cogitada mundo afora por destinos e companhias de cruzeiros. Um passe de viagem da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) começa a ser testado neste mês pela Singapore Airlines. Na Organização Mundial da Saúde (OMS), um grupo foi montado para definir padrões para um certificado digital de vacinação.


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A criação de um passaporte de vacina, então, parece ser o caminho natural nas viagens internacionais. Mas, na opinião de especialistas em turismo e saúde do viajante, é cedo para se pensar na medida como obrigatoriedade global.


A ideia de um passaporte de vacina e sua eficácia para restabelecer as viagens tem hoje alguns entraves: questões éticas sobre privilegiar quem foi vacinado, levantadas pela própria OMS, quando a maior parte do mundo aguarda a imunização, processo bem atrasado no Brasil; a privacidade dos dados dos viajantes; e até aspectos científicos, pois não está claro por quanto tempo as diversas vacinas contra a covid protegem a pessoa imunizada e quem está ao redor de pegar o coronavírus.


“A intenção é permitir que as pessoas possam voltar a voar. No aplicativo, os passageiros poderão saber se o país tal exige PCR ou antígeno”, explica Filipe dos Reis, diretor de Aeroportos, Passageiros, Cargas e Segurança da Iata nas Américas. Muitos governos estão implementando, com o apoio da associação, esquemas de teste para facilitar as viagens - exigem que sejam realizados de 48 a 72 horas antes do embarque.


A Iata, que representa cerca de 290 empresas responsáveis por 82% do tráfego aéreo global, desenvolveu o Iata Travel Pass, aplicativo para os passageiros incluírem dados de saúde e agilizarem a entrada nos destinos. “Chegar à vacina é o objetivo final. Os países são soberanos e decidem o que exigir. Está um pouco cedo, mas a tendência é que a gente vá nesse caminho. Mas não achamos que serão todos os países.”, avalia o diretor da Iata.


Como o processo de vacinação está em diferentes estágios de um país para outro, Reis estima que os dados do aplicativo irão incluir teste e vacinação por um período superior a um ano. No entanto, o Iata Travel Pass poderia eliminar as exigências de períodos de isolamento na chegada aos destinos, explica o diretor da associação. “As situações de quarentena, muito mais do que os testes, hoje em dia são o maior impedimento para as viagens.”


Faltam respostas


O médico Jessé Reis Alves, do Ambulatório de Medicina do Viajante do Hospital Emílio Ribas, pondera que a solução depende de respostas por vir. “Acho difícil que, de uma maneira muito rápida, a vacinação elimine a necessidade de quarentena. Exatamente porque a gente não sabe qual é a efetividade de cada vacina impedir uma infecção. Elas podem ser efetivas no que diz respeito ao não adoecimento, mas o indivíduo pode ser um carregador do vírus”, avalia o infectologista.


Embora existam ainda muitas incertezas, Alves imagina que a imunização será exigida no futuro. “Não sei como vão organizar isso, porque a gente vai ter muitas vacinas surgindo, mas acredito que ela vai fazer parte do nosso cartãozinho amarelo ou algo mais tecnológico”, acrescenta ele, referindo-se ao documento que comprova a imunização contra a febre amarela. “Hoje é a única doença com certificado internacional de vacinação pedido em vários países”.


Comprovantes


A União Europeia discute a possibilidade de criar o Digital Green Pass, passaporte de vacina que facilitaria o trânsito entre países por quem recebeu a imunização. A China já tem certificado digital com dados de exame e vacina contra a covid, assim como Israel lançou o Green Pass para os vacinados.
A comprovação de teste ou vacina vem sendo cogitada no mundo como requisito não só em viagens.


O Digital Health Pass, da IBM, seria usado para as pessoas entrarem em lugares como escritórios, universidades, estádios e aviões. Outra iniciativa é o CommonPass, proposto pela fundação Commons Project com o Fórum Econômico Mundial.


Segundo o diretor de Segurança da Iata nas Américas, a associação trabalha com órgãos das Nações Unidas para até maio definir uma padronização para a certificação eletrônica nos países. “Isso é a base para a construção das próximas regras. O passageiro vai se vacinar e recebe do governo um certificado. Isso fica armazenado no celular. Toda vez em que for solicitado, pode compartilhar as informações com os dados pessoais”, diz Reis. “A gente tem falado com companhias de cruzeiros, hotéis, travel bureaus e até empresas que vendem shows. Há grande interesse no app.”


'Barrados'


Jessé Reis Alves, infectologista doHospital Emílio Ribas, da Capital, avalia as possibilidades do brasileiros serem barrados em viagens internacionais, caso não estejam vacinados contra a covid-19.


A tendência é que a vacina contra acovid-19 seja exigida? Pode se tornar, sim, uma exigência internacional, entretanto, não é tão simples. Vai precisar passar pelo comitê que faz o regulamento sanitário internacional. Tem de vir de uma entidade mais global, talvez da OMS, para ser aceita por vários países.


Outra questão: há uma grande diversidade de vacinas de covid, com duas doses, com uma. Qual é o tempo que essa vacina vairealmente proteger? Com as variantes, há o risco de o brasileiro não ser aceito em alguns países mesmo vacinado? Eu acho que isso vai acontecer. Mesmo que a vacina proteja de uma forma mais grave da doença, pode não proteger da infecção. Então, esse indivíduo pode ser um transmissor de uma nova variante. É tudo muito especulativo. O que acho é que não será uma decisão muito simples, ter ou não ter a vacina, por várias questões específicas ainda sem resposta. Mas acredito que seja um caminho para que os paísesabram um pouco e as viagens voltem.


Empresas aéreas investem em tecnologia


A Emirates deve começar a testar o Iata Travel Pass no início de abril, para exames PCR antes do embarque. “Nossos clientes que viajam de Dubai poderão compartilhar seu status do teste de covid-19 com a companhia aérea antes de chegar ao aeroporto, por meio do app, que automaticamente preencherá os detalhes no sistema de check-in”, explica Stephane Perard, diretor geral da empresa no Brasil.


Viajantes de Dubai ou em conexão na cidade passam pela nova experiência tecnológica da Emirates, combinando reconhecimento facial e de íris. “O caminho biométrico integrado garante aos passageiros um processo de viagem perfeito, do check-in aos portões de embarque, melhorando o fluxo do cliente no aeroporto, com a redução de filas e verificações de documentos”, diz Perard.


Pesquisa da Iata em meio à crise da covid, publicada em setembro de 2020, mostra que 70% dos viajantes preocupados com contaminação ao entregar passaporte, telefone oucartão de embarque e 85% mais seguros em processos sem contato físico.


Tecnologia é a aposta das companhias para resgatar a confiança dos passageiros. Antes da covid, a frota da Air Canada contava com filtro HEPA, que elimina quase 100% de bactérias e vírus, renovando o ar no avião a cada três minutos. Desde o início da pandemia, a empresa vem ampliando o programa CleanCare+.


Despachar a bagagem sem contato físico já é possível em Toronto e Montreal. Depois do check-in on-line, o viajante armazena o cartão de embarque no celular. No terminal, imprime a etiqueta e põe a mala na esteira. "A máquina de entrega automática de bagagem elimina a necessidade de toque nos dispositivos”, diz o diretor da companhia no Brasil, Giancarlo Takegawa. “Os protocolos de biossegurança vieram para ficar. A tendência é que sejam aprimorados com base na ciência.”


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