Campos do Jordão: Aprecie com calma

O desejo de viver uma experiência real, após meses de distanciamento físico, deve ter sido o principal objetivo dos milhares de pessoas que visitaram a cidade, no último dia 15

Por: Carlota Cafiero & Especial para A Tribuna &  -  23/08/20  -  16:30
O boia cross é pura adrenalina e também pode ser praticado por pessoas de qualquer idade
O boia cross é pura adrenalina e também pode ser praticado por pessoas de qualquer idade   Foto: Fotos: Claudio Vitor Vaz / Especial para A Tribuna

Refúgio natural, conforto, sofisticação, aventura, novos sabores. São muitos os motivos que levam milhões de turistas, todos os anos, a Campos do Jordão. Mas o desejo de viver uma experiência real, após meses de distanciamento físico, deve ter sido o principal objetivo dos milhares de pessoas que visitaram a cidade, no último dia 15.


Foi o segundo sábado da Fase Amarela do Plano São Paulo, com a reabertura dos restaurantes para almoço e dos parques ao público. Encorajados também pelo clima ensolarado, os visitantes procuraram, principalmente, centros de lazer e aventura, passeios ao ar livre e restaurantes dedicados à culinária regional.


Escutamos, de alguns donos de estabelecimentos, que a movimentação de turistas foi acima da expectativa, e o grande desafio foi atender bem com equipe de funcionários reduzida. A boa notícia é que os restaurantes, parques e hotéis que visitamos estão seguindo à risca os novos protocolos de segurança, com seus colaboradores utilizando Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e sob a orientação de descartá-los após o uso. Há também medição de temperatura dos visitantes e a obrigação do uso de máscara para acessar todos os ambientes.


Reconhecido polo gastronômico, Campos tem em seus restaurantes e culinária regional – com destaque para os pratos com truta e pinhão – seu principal atrativo. Daí que, no contexto de pandemia em que vivemos, é preciso que o turista tenha em mente que a espera para ser atendido será um pouco maior do que o normal.


Observamos que, com equipes reduzidas na cozinha e no salão, atrasos nos pedidos foram inevitáveis em alguns lugares. A dica é: vá com calma, aproveite para apreciar o ambiente e desfrute a incrível sensação de liberdade após tantos meses em casa.


No restaurante


Ainda no sábado, no Tainakan Gourmet, que funciona desde 2000 no Parque Tarundu, por exemplo, a mudança do sistema self service para o a La carte – como medida de segurança para impedir o contágio pelo novo coronavírus – resultou num grande desafio atender a tantas mesas. Pessoal da cozinha e salão corria para dar conta de tudo, quando o parque registrou a entrada de 560 pessoas.


No dia seguinte, com menos visitantes, em torno de 300, não vimos o mesmo cenário, pois a cozinha do Tainakan aprendeu com a experiência e se organizou melhor, dos ingredientes ao processo de feitura dos pratos, para agilizar o processo.


Com 500 mil m² de mata preservada, a 1,7 mil metros de altitude, o Tarundu, no começo do ano, estava recebendo entre 900 a 1,2 mil pessoas, e trabalhava com uma equipe de 250 colaboradores, entre mensalistas e intermitentes. Nesse novo momento, está operando todos os dias, das 10 às 16h, com 54 funcionários e 17 das 36 atrações, todas ao ar livre, pois os brinquedos indoor estão proibidos.


“A pandemia chegou numa altura em que Campos do Jordão estava crescendo, o público se solidificando, com a identidade da cidade focada no turismo urbano e de natureza. Em 19 de março, saímos de uma reunião de gestores, em que estavam todos felizes com os resultados do primeiro trimestre, com 15% a mais no faturamento... Aí chega um funcionário e diz ‘o prefeito mandou fechar tudo a partir do dia 20’. Foi um banho de água fria”, lembra Ricardo Lenz, de 68 anos, fundador do Tarundu.


Com a Fase Amarela, foram liberadas atrações como tirolesas, cama elástica, boia cross, tiro esportivo, mini golf, arborismo, bungee trampolim, passeios a cavalo e de pônei. Os equipamentos são higienizados a cada uso. Uma novidade é o Caminho da Paz, uma trilha suspensa, no meio da vegetação do parque, com 600 metros de extensão, que percorre quatro nascentes.


Tarundu é uma palavra em tupi-guarani que significa “estado de graça”, e é isso que Lenz e sua mulher Evadne Perugine, que conduzem o parque, querem proporcionar às diversas gerações que chegam ao local de lazer. Ali, também funciona uma charmosa pousada.


Uma aventura gostosa sobre quatro rodas, de quadriciclo


Quando chegamos ao Mirante da Ferradura, a natureza nos presenteou com um belíssimo por do sol.
Quando chegamos ao Mirante da Ferradura, a natureza nos presenteou com um belíssimo por do sol.   Foto: Fotos: Claudio Vitor Vaz / Especial para A Tribuna

Em meio a trilhas de terra, o passeio exige habilidade, mas compensa pelo belo visual
Na mesma tarde em que chegamos à Pousada Tarundu (veja abaixo), rumamos para o primeiro passeio do nosso roteiro em Campos do Jordão: um giro de quadriciclo em família. Na minha inocência de mãe – pois viajamos com nossa filha, de 4 anos, achei que estava agendado um passeio de quadriciclo a pedal. Qual não foi meu susto quando me deparei com motocicletas fourtrax!


Eu teria de passar por uma mini-aula para pilotar, e deixei esse desafio para o marido, Claudio, quando descobri que havia modelos com garupas. Ele também nunca tinha pilotado um quadriciclo, mas o dono da agência Campos do Jordão Quadriciclos, Cesar Santos, garantiu que o aprendizado seria rápido. Depois de levar uns trancos nas arrancadas, Claudio estava pronto para levar suas meninas morro acima, até o Mirante da Ferradura.


Maria Paula, nossa filha e protagonista de muitas aventuras narradas neste caderno e em nosso site (mariapaulanaestrada.com.br), estava ansiosa para montar o veículo. De capacete, ela gritava “eu tô pronta, papai!”. E lá fomos nós, a 20 km/h (é a regra), sob escolta de dois funcionários da agência, e na agradável companhia de Ricardo Gonçalves, da Ame Campos – responsável por organizar esses roteiros malucos –, e seu filho, Pedro, de 9 anos.


Subimos a Avenida Pedro Paulo, no bairro do Fojo, onde fica a agência, passamos por trilhas de terra esburacadas, no meio da mata – aí é bom se segurar a valer. Maria Paula no meio de nós. Ao chegarmos no mirante, a natureza nos presenteou com um belíssimo por do sol. Eu preferi me sentar na grama para apreciar os minutos finais do dia e uma vista de 360 graus de Campos, enquanto as crianças corriam na terra e os demais adultos proseavam. Agradeci a Deus a oportunidade e preparei o espírito para voltar sob o lusco-fusco. E as crianças são incríveis, porque com todo o chacoalho da volta, Maria conseguiu tirar um cochilo.


Campos do Jordão Triciclos foi idealizado por Cesar, de 47 anos, que trabalhou como taxista por quase duas décadas, antes de investir no negócio. Fundada há cinco anos, a agência funciona com oito funcionários e 20 unidades de quadriciclos, de 420 a 1 mil cilindradas. Os passeios custam entre R$ 150,00 e R$ 200,00 e os preços dependem do veículo e do trajeto escolhidos. Saiba mais em camposdojordaoquadriciclos.com.br.


Pousada Tarundu lembra uma casa de bonecas


Aconchegante, pousada conta com uma bela lareira na sala de estar. (Fotos: Claudio Vitor Vaz / Especial para A Tribuna)


Fundada em 1986, como hospedaria para cavaleiros, a Pousada Tarundu é uma casa de madeira, pintada de rosa e lilás, ao final de uma alameda florida, dentro do parque homônimo. Com quatro suítes, possui sala com lareira, poltronas e uma longa mesa, onde é servido um generoso café da manhã colonial. A decoração é obra da psicoterapeuta Evadne Perugine, e traz objetos de todas as origens, formas e histórias, dando um ar de conto de fadas que encanta a todos.


Ficamos na suíte 4, com cama de casal no mezanino, cama de solteiro embaixo, frigobar, TV 43”, aquecimento central, aquecedor e wi-fi.


Pela manhã, o hóspede é recepcionado pelos próprios donos do Tarundu, e tem a grata experiência de escutar histórias sobre o pioneirismo do avô materno de Ricardo Lenz, o engenheiro elétrico Luiz Dumont Villares (1899-1979), que construiu um dos mais antigos e famosos hotéis de Campos, o Toriba, inaugurado em 1943. O avô de Lenz é sobrinho-neto do inventor e um dos pais da aviação, Santos Dumont.


Villares também foi proprietário da Pedra do Baú, o cartão-postal da cidade, um paredão de pedra a 1.950 metros de altura. Uma curiosidade é que o avô foi responsável pela construção da escada de ferro e pedra que leva ao topo da pedra, e também foi um dos fundadores do primeiro acampamento do Brasil, o Paiol Grande, há mais de 70 anos, no município vizinho, São Bento do Sapucaí.


Lenz é engenheiro mecânico, e desenvolveu paixão por Campos do Jordão ainda criança, graças ao avô, que o colocava ainda menino no carro e dirigia até a cidade, para desbravar matas e rios. Quando se aposentou como diretor da empresa Villares, em São Paulo, decidiu que passaria seus próximos anos em Campos: “Comecei com cavalos. Investi toda a minha aposentadoria no Tarundu”, orgulha-se. As diárias de final de semana custam a partir de R$ 211,00 por pessoa, com café da manhã. Veja em tarundu.com.br/pousada.


Serviço: O Tarundu fica na Av. José Antônio Manso, 1.515. A entrada custa entre R$ 19,00 (meia) e R$ 38,00, e o passaporte VIP está com desconto: R$ 170,00, válido para todas as atrações (exceto o balão). Mais informações no site tarundu.com.br.


Sobre a autora - A jornalista carlota cafiero viajou a convite da Associação de Amigos de Campos do Jordão AMECampos.


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