Projeto criado na pandemia por escritora santista vai levar poesia às escolas

Jornalista e escritora promove novos talentos e quer proporcionar experiência para os jovens

Por: Lílian Rabelo*  -  18/10/21  -  14:53
 Jornalista e escritora levará projeto para as escolas de Educação Básica
Jornalista e escritora levará projeto para as escolas de Educação Básica   Foto: Arquivo pessoal

Poesia é palavra feminina. Assim como literatura e arte. E, dando feminilidade para essas expressões, a sociedade vem sofrendo mudanças cada vez mais perceptíveis. Se antes ignoradas, ou silenciadas, agora as mulheres dão voz e vida à fantasia. Talvez não seja exagero dizer que essas produções se tornaram até mais expressivas que as dos homens. Para a jornalista e escritora santista Eunice Tomé, isso ainda é pouco, ela quer muito mais.


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Autora do livro Pequenos Contos de Viagem, Eunice, de 74 anos, entende bem o poder dessa arte, e da influência das mulheres na produção literária. Jornalista, mestre em Comunicação e poeta, suas palavras ecoam em livros e nas redes sociais, espaço que encontrou sua voz e de autores anônimos da região.


Para ela, o período de isolamento imposto pela pandemia foi transformador. "Eu tenho muitas amigas e nós ficamos impedidas de ter contato físico e assim eu tive a ideia de nos comunicar declamando poesias”, conta a poeta sobre o que deu início ao projeto que resultou na descoberta de 80 novos autores da Baixada Santista. “Eu pensei: por que não divulgar as vozes da cidade? Então, eu criei o projeto Sarau em Casa com Pratas da Casa.”


Com o retorno das aulas presenciais em São Paulo, Eunice pretende dar continuidade ao trabalho com os mais jovens. As declamações que nasceram no formato digital passarão a ser trabalhadas com os alunos do ensino Fundamental e Médio. A ideia do projeto é apresentar para os estudantes a história de vida e obras dos autores santistas.

“Divulgar nossos valores, nossos poetas para as novas gerações. Muitas vezes acabam por esquecer aqueles que estão próximos a gente. Todos os autores que declamei no projeto, agora quero apresentar para os alunos presencialmente.”


Em seus textos, Eunice une duas paixões: jornalismo e poesia. Ao viajar pelo mundo, o olhar que por anos esteve apurando fatos se tornou mais sensível. A pandemia não permitiu que, ao menos por enquanto, Eunice percorresse os mais variados lugares para buscar inspiração para a sua poesia. Mas, foi através da tela de um celular que ela continuou exibindo os seus sentimentos por meio de estrofes declamadas.


 Jornalista tem intensa produção literária
Jornalista tem intensa produção literária   Foto: Acervo pessoal

Eunice conta como a autopromoção na internet a ajudou alcançar mais pessoas com seu projeto de poesia. Durante o isolamento, a poeta selecionou trabalhos de autores ainda desconhecidos, e com sua imagem e voz declamava os poemas.

“Enquanto você não for um autor consagrado nenhuma editora irá bater na sua porta dizendo que quer te publicar. E nós que escrevemos não queremos que fique guardado, trancado. Você quer divulgar. E nada melhor que a internet para alcançar seu público”.


A poeta e jornalista Madô Martins foi a primeira artista a ser declamada por Eunice no projeto Sarau em Casa e conta a importância de um trabalho que exalte as vozes da região. Com 14 obras publicadas e diversas premiações, a poeta conta sua experiência e de como “foi uma honra inaugurar um projeto com tanta representatividade e que terá continuidade, além de divulgar vozes conhecidas também descobre novos talentos. É um trabalho lindo de resgate”, relata.


 Madô Martins inaugurou projeto Sarau em Casa com Pratas da Casa
Madô Martins inaugurou projeto Sarau em Casa com Pratas da Casa   Foto: Márcio Barreto

Eunice revela em vários de seus textos, sejam eles crônicas, artigos, contos, poesias ou haicais, que a figura da mulher nunca deixa de estar presente. “As mulheres estão ocupando os espaços que sempre mereceram. Não só na literatura. Eu sou uma feminista. Mulheres nunca tiveram seu devido destaque, foram acorrentadas pelo machismo que sempre galgou a sociedade. Mas nós estamos nossos espaços de direito”, comenta com orgulho.


Madô concorda com esta visão. "Agora mais do que nunca estamos tendo espaço e voz para falar do nosso universo. Falar da nossa realidade, a mulher que sonha, que cai e precisa levantar. A poesia sempre foi muito introspectiva, mas nessa época de pandemia, se ouvir mais, serviu para decantar, tornando a arte mais autêntica".


Segundo Eunice, as mulheres da literatura brasileira estão se assumindo e criando raízes profundas no cenário nacional. Se, por tempos, permaneceram na penumbra, há alguns anos decidiram impor que o valor de uma obra literária desprende do sexo, e evidencia o talento de cada um. “Estamos incentivando que elas gritem, mostrem as suas vozes. Não precisamos de preconceitos, temos que aplaudir aquilo que engrace a cultura.”


Em trecho de um dos seus poemas, Eunice traz a analogia sobre dois dos seres que mais acredita em seu poderio, a mulher e a lua. Assim, ela profere as palavras que dizem que ambas as forças determinam os humores dos homens e “quem nunca parou para olhar a lua na certa, nunca tirou os pés do chão e não soube o que é amar uma mulher. Mulher é a imagem da lua: linda, forte, reveladora, romântica, mas gravitando no temperamental”.


* Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna - UniSantos sob supervisão dos professores Marcelo Di Renzo, Tereza Cristina Tesser e Paulo Bornsen e do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes.


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