Compras de fim de ano acendem alerta para o consumo compulsivo, afirmam especialistas

Transtorno atinge cerca de 8% da população, sendo o público feminino mais afetado

Por: Thiago Silva*  -  06/12/21  -  12:29
O apelo às compras por meio de descontos é um dos incentivos ao consumo compulsivo
O apelo às compras por meio de descontos é um dos incentivos ao consumo compulsivo   Foto: Matheus Tagé/AT

Com a Black Friday e as compras de final de ano, um problema que chama a atenção de psiquiatras e psicólogos é a compulsão por compras. O problema atinge cerca de 8% da população, e as mulheres são as que mais sofrem com o transtorno, afirma o psiquiatra Luiz Guimarães. Especialista em compulsão, ele aponta que os primeiros sinais do comprador compulsivo surgem no período entre o final da adolescência e o início da idade adulta.


Guimarães explica que a compra compulsiva se dá pelo excesso de preocupações e desejos relacionados à aquisição de objetos, associado à incapacidade de controlar as compras e gastos financeiros.


O psiquiatra diz que é por volta dos 18 anos que o indivíduo passa a ter autonomia e emancipação do núcleo familiar, por começar a ter condições de adquirir crédito. “Essas pessoas estabelecem uma associação entre aquisição de objetos e recompensa, ou neutralização das emoções negativas”.


Sinais
O psicólogo Wagner Tedesco diz que alguns sinais de compulsão começam a surgir quando a pessoa passa a esconder as compras, devido à culpa, chegando até a acumular objetos e caixas fechadas. “Muitas vezes, a compulsão por compra está associada a transtorno de ansiedade e ao desejo de satisfação de processos neurológicos ligados ao vício”.


Para ajudar aqueles que passam por essa situação, Luiz Guimarães diz que é necessário, antes de comprar, perguntar a si próprio se o produto é necessário. Segundo o psiquiatra, é comum que o paciente chegue ao tratamento por meio da família ou de pessoas próximas.


Tratamento
Guimarães considera necessário ficar atento aos comportamentos que possam indicar compulsão. O tratamento requer o uso de medicação, psicoeducação, psicoterapia (individual ou em grupo), e orientação financeira e familiar.


No caso de um comprador compulsivo, as estratégias dos bancos para o endividamento são um grande atrativo. “É importante reconhecermos como as estratégias de facilitação de crédito e os estímulos ao consumo interferem, determinam e induzem o desejo de compra nas pessoas”.


Danos ambientais
Os problemas não param pelo endividamento. Além de prejuízos mentais, o consumo compulsivo pode prejudicar o meio ambiente. “O consumo excessivo tem uma longa lista de malefícios”, explica Natalia Reis Alves da Cruz, a ativista da ONG Tuca Eco. Poluição, destruição de ecossistemas e emissão de gases poluentes são alguns exemplos dos problemas citados por ela.


Para Natalia, o consumo consciente não existe, apesar de extremamente necessário na sociedade atual. “Não compre, mesmo que esteja barato. Lembre-se que nenhum desconto vale a pena, se você não precisa do produto”.


* Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna-UniSantos sob supervisão do professor Eduardo Cavalcanti do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes.


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