Suspensão de embarques na Rússia deve afetar o Porto de Santos

Confronto no Leste Europeu já causa impactos na navegação mundial

Por: Fernanda Balbino  -  03/03/22  -  07:20
Conflito no Leste Europeu pode afetar as importações e exportações no Porto de Santos
Conflito no Leste Europeu pode afetar as importações e exportações no Porto de Santos   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Os conflitos entre Rússia e Ucrânia já causam impactos na navegação mundial. Além de navios atingidos por mísseis na região do Mar Negro, as maiores armadoras do mundo decidiram suspender embarques com origem ou destino nos portos russos. A medida deve afetar as operações no Porto de Santos, já que pode impactar importações de insumos, exportações de commodities e gerar um aumento de custos no comércio exterior.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


Há mais de uma semana, a Rússia iniciou uma ofensiva à Ucrânia, de onde mais de 800 mil pessoas já fugiram. O país alvo dos ataques lançou uma contraofensiva para tentar tirar forças militares russas do seu território. Os impactos do conflito não se resumem aos dois países. Além dos temores de aumento de inflação em todo o mundo, forçada pela alta do preço do petróleo, e da escassez de produtos, como fertilizantes, também há um risco à navegação mundial.


Pelo menos uma embarcação japonesa e um navio de bandeira panamenha foram atingidos por mísseis enquanto navegavam na região do conflito. Pensando na segurança dos cargueiros e de seus tripulantes, assim como nas sanções econômicas de diversos países à Rússia, as principais armadoras do mundo resolveram cancelar embarques com origem ou destino nos envolvidos nas ofensivas.


Em Santos

Segundo o diretor-executivo do Sindicato das Agências de Navegação Marítima de São Paulo (Sindamar), José Roque, os impactos serão sentidos nas importações e nas exportações, o que é preocupante do ponto de vista econômico, já que os embarques de commodities têm grande participação na balança comercial brasileira.


“Esses cancelamentos de escalas afetarão, sim, o Porto de Santos. O principal motivo é a suspensão dos embarques de fertilizantes. A alternativa é comprar do Canadá”, explicou o executivo.


Segundo o representante das agências, a guerra vai aumentar os custos com frete e logística. “Os embarques de soja, milho, carne e açúcar para esses destinos não serão realizados devido esses cancelamentos de escala”.


Para o economista Helio Hallite, especialista em comércio exterior, serão graves os impactos na distribuição e nos preços de produtos. Entre eles, estão grãos, fertilizantes, minérios e outras muitas variedades de insumos, além do petróleo.


“Opções para redestinar cargas para portos da Holanda ou Polônia (destino terrestre para Rússia) ou portos como Algeciras (na Espanha, que serve de transbordo para Ucrânia) ou portos da Romênia e Turquia são possíveis. Mas, além dos perigos d a guerra, o custo logístico poderá inviabilizar financeiramente as exportações e importações”.


O professor universitário ainda aponta os impactos em portos de todo o mundo. “Falta de contêineres? Pandemia e fechamento de portos chineses (e outros mais), encalhe do Ever Given (no Canal de Suez, no ano passado) e a invasão da Ucrânia seguida de uma onda mundial de embargos contra os russos são uma sequência trágica somente experimentada durante as Guerras Mundiais. A hipótese de faltas de contêineres não me assusta tanto quanto a real possibilidade de sobrar caixas metálicas por falta de cargas. Teremos muitos desafios a boreste e bombordo”.


Sanções e segurança de funcionários preocupam

A preocupação com funcionários e as sanções internacionais à Rússia são os principais fatores que levaram as armadoras a cancelar embarques. Segundo especialistas, a medida deve se arrastar por algum tempo.


“A Maersk suspendeu as reservas de/para a Rússia e a Ucrânia até novo aviso. Estão isentos da suspensão da reserva de/para a Rússia alimentos, suprimentos médicos e humanitários. No entanto, alertamos para cautela ao fazer reservas para cargas perecíveis devido a atrasos significativos nos principais centros de transbordo que podem danificar a carga”, informou a armadora.


A Maersk aponta que as autoridades alfandegárias da União Europeia e do Reino Unido estão inspecionando unidades com origem ou destino para a Rússia. O objetivo é identificar cargas restritas em trânsito. “Isso é uma consequência direta das sanções, mas também há impactos indiretos, pois todas as cargas estão ficando atrasadas e nossos hubs de transbordo, já congestionados, estão pressionados. Este é um impacto global, não se limita ao comércio com a Rússia”.


Já a MSC Shipping bloqueou, na terça-feira, as reservas de carga com origem ou destino a Rússia, cobrindo todas as áreas de acesso, incluindo Báltico, Mar Negro e Extremo Oriente do país. “A MSC monitora de perto os conselhos dos governos sobre novas sanções e opera serviços de transporte marítimo e terrestre de e para a Rússia em total conformidade com as sanções internacionais aplicáveis”.


Com relação à CMA CGM, a decisão foi de suspender todas as escalas de navios para a Ucrânia. Segundo a armadora, as cargas que têm como destino esse país serão direcionadas para portos do Líbano, Romênia e Grécia. “A segurança de nossos funcionários e suas famílias na Ucrânia é nosso foco principal”.


Logo A Tribuna
Newsletter