Portos brasileiros monitoram riscos de mudanças climáticas

Estudos e análises fazem parte da rotina de autoridades, empresas e especialistas do setor

Por: Ted Sartori  -  26/09/23  -  07:23
Três portos brasileiros foram estudados em trabalho recente: Aratu (BA), Rio Grande (RS) e Santos
Três portos brasileiros foram estudados em trabalho recente: Aratu (BA), Rio Grande (RS) e Santos   Foto: Matheus Tagé/AT

O mundo está de olho nas mudanças climáticas. Eventos extremos, como ondas de calor, tempestades e aumento da velocidade dos ventos, são cada vez mais comuns. E isso não atinge apenas o cidadão comum: os portos de todo mundo, incluindo o de Santos, o maior do Hemisfério Sul, também estão diretamente ligados neste processo, com reflexo na questão econômica.


No último dia 13, ventos fortes que atingiram cerca de 70 km/h na Baixada Santista acabaram derrubando no mar dois contêineres vazios que estavam no pátio de um terminal. Um deles foi içado na mesma madrugada e o outro ficou submerso junto à Ilha Barnabé, na Margem Esquerda do complexo santista, até dia 15, quando foi retirado.


“A questão climática pode ser surpreendente. O máximo que podemos fazer são estudos, monitorar as questões climáticas e tentar desenvolver, dentro da infraestrutura portuária, questões básicas relativas à drenagem, piscinões para algum tipo de inundação. Para ventos fortes, por exemplo, nossos equipamentos têm tecnologia limitada com relação a isso”, explica o gerente de Meio Ambiente, Saúde e Segurança do Trabalho da Brasil Terminal Portuário (BTP), Renato Ferreira da Silva. Ele abordou o assunto durante o primeiro encontro da segunda edição da Agenda ESG, promovida na última terça-feira, no auditório do Grupo Tribuna.


Um desses estudos teve sua última etapa aprovada em junho deste ano pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). A abordagem, intitulada Impactos e Riscos da Mudança do Clima nos Portos Públicos, de relatoria da diretora da Antaq Flávia Takafashi, faz parte da parceria com a Agência Alemã para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ, na sigla em alemão).


Três portos brasileiros foram estudados: Aratu (BA), Rio Grande (RS) e Santos. De acordo com as conclusões apresentadas, todos possuem riscos de paralisações em caso de chuvas fortes. Também apresentam riscos – em casos de chuva persistente, chuva forte e inundações devido ao aumento de 0,2 metro do nível do mar – a exposição de suas infraestruturas causadas por intempéries, “resultando em altas demandas de manutenção, crescimento de custos e capacidade geral reduzida”.


O estudo também revelou que os três portos não apresentam dados com série histórica de danos estruturais sistematizada e organizada, “não havendo, portanto, registros de impactos às infraestruturas e superestruturas". Além disso, os dados de paralisações da operação do porto também eram limitados, correspondendo a um curto período, o que representou uma grande limitação ao estudo.


“Embora as análises de risco possuam incertezas sobre a dimensão dos impactos, isso não deve impedir que o Porto faça a gestão dos seus riscos relacionados a eventos climáticos futuros”, observa o texto que indica os resultados do levantamento de risco climático no Porto de Santos.


No exterior

O olhar para as mudanças climáticas é plural no exterior. Uma das convidadas do evento Agenda ESG da última terça, a gerente de Desenvolvimento de Negócios da WayCarbon, Ana Carolina Oliveira, também abordou o assunto por dois aspectos. Um deles é o aumento do nível do mar. “Há um caso emblemático na Europa, se não me engano na Holanda, que está fazendo adequações de infraestrutura em razão disso”.


O outro é o viés econômico, a partir da experiência vivida recentemente por ela quando trabalhava em um grande grupo global canadense.


“Nossa empresa principal tinha um protocolo específico que não só avaliava riscos e viabilidade econômica do ponto de vista se valia a pena ou não, mas também era obrigado a ver do ponto de vista ambiental, social e de governança. E qual era o principal item ambiental? O risco climático. Tínhamos que fazer todo um mapeamento futuro para todas as potenciais novas aquisições. Nem se sabia se iriam comprar, mas tinha que se saber a viabilidade climática daquela região para ver se o investimento fazia sentido”, explica.


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